Júlio César
Shakespeare
Tradução: Dr.
Domingos Ramos
Lello & Irmão
Editores, Porto s/d
António:
Amigos romanos, compatriotas, prestai-me atenção. Vim para sepultar
César, não para o louvar. O mal que os homens fazem vive depois deles. O bem
que puderam fazer permanece quase sempre enterrado com os seus ossos. Que seja
assim para César. O nobre Bruto disse-vos que César era um ambicioso. A ser
isso verdade, a culpa era grave, e César dolorosamente a expiou. Com a autorização
de Bruto e dos outros (porque Bruto é um homem honrado, assim como todos os
outros são honrados) venho falar nos funerais de César. Ele era, para mim, um
amigo fiel e justo. Mas Bruto diz que ele era ambicioso, e Bruto é um homem
honrado. Ele trouxe a Roma numerosos cativos, cujos resgates encheram os cofres
públicos. Era César ambicioso por isso? Quando o pobre gemeu, César chorou. A
ambição deveria ser dum estofo mais rude. Mas Bruto diz que ele era um
ambicioso, e Bruto é um homem de bem. Todos vós vistes, nas Lupercais, que três
vezes uma coroa real lhe foi apresentada, e que três vezes ele a recusou. Era
isso ambição? Contudo, Bruto diz que ele era um ambicioso, e não há dúvida que
Bruto é honesto. Eu não falo para reprovar o que Bruto disse; mas estou aqui
para dizer o que sei. Todos vós o amáveis antigamente, e não era sem motivo.
Por que, pois, não o pranteais hoje? O que é que vos impede disso? Ó razão,
onde estás tu, razão? Refugiaste-te nas brutas feras, e os homens ficaram sem
ti! Sede indulgentes para comigo. O meu coração está no esquife de César; e
vejo-me obrigado a calar-me até recuperar ânimo.
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