«Felizmente, existem os livros. Podemos esquecê-los numa prateleira ou
num baú, deixá-los entregues ao pó e às traças, abandoná-los na escuridão das
caves, podemos não lhes pôr os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e
anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si
mesmos para que nada do que têm dentro se perca, o momento que sempre chega,
aquele dia em que nos perguntamos, Onde estará aquele livro que ensinava a
cozer os barros.» A frase, absolutamente maravilhosa, é de José Saramago e
pertence ao romance A Caverna,
o primeiro que o escritor publicou depois de vencer o Nobel da Literatura, há
vinte anos; foi recentemente partilhada por um jovem escritor no Facebook que
me deu a ideia de a partilhar também. Além de tudo, fez-me lembrar os anos em
que eu fazia a Feira do Livro de Lisboa dentro do stand, atrás do balcão, e numa bela tarde uma senhora, que
quase de certeza nunca entrava em livrarias por se sentir intimidada, chegou
ali ao parque, viu aquelas casinhas, tomou coragem, aproximou-se e disse, a
olhar para mim: «Ó menina, tem algum livro que ensine como se deitam os
canários?» Eram outros tempos. Boas recordações.
Maria do Rosário
Pedreira em Horas Extraordinárias
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