quarta-feira, 19 de setembro de 2018

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI



Estava a reler O Prazer de Matar de Fredric Brwon para colocar um pedaço de prosa com que habitualmente fazemos em Olhar as Capas.

É uma manhã quente de sábado e Sam Evans, repórter do Herald, está, na redacção do jornal, às voltas com um moscardo que lhe está a estragar a paz serena  do não fazer nada, porque nada havia para fazer.

Lembrei-me de imediato de Harry James, num 78 rotações por minuto que o meu pai amiúde punha a rodar, com o Voo do Moscardo, um interlúdio para orquestra composto por Rimsky-Korsakov.

O trompetista Harry James era um dos clássicos do meu pai, que gostava de big bands e, essencialmente, de trompetistas.

Mais abaixo ouvirão o Harry James e eu acrescento mais um pouco da prosa de Fredric Brown, no exacto momento em que Sam é chamado ao gabinete de Ed, o editor do Herald. Porque o que se segue me fez lembrar o jornalismo de sarjeta que é o Correio da Manhã, o português e todos os que se encontram espalhados pelo mundo:

«Sentei-me na cadeira em frente da secretária, e aguardei que levantasse a vista, esperando intimamente que o não fizesse. Mas fez. Disse:
- Um rapaz sofreu um acidente mortal na «montanha-russa», em Whitewater Beach. Quero uma história com interesse humano que o retrate como um estupendo moço, que diga como os pais estão inconsoláveis, et etecetera e tal… enfim esse género de coisas. Puxa ao choradinho de que o público gosta. Bem sabes o que quero dizer.
Eu sabia o que ele queria dizer.
- Já estou a chorar – respondi-lhe.»


Sem comentários: