Nos primeiros dias de Março começámos a percorrer as 96 páginas da Autobiografia de Mário Dionísio e hoje
publicamos a derradeira página.
Um livrinho notável publicado em Dezembro de 1987.
Tentámos dar a conhecer as partes mais significativas, mas trata-se
de um livro maravilhoso que exige ser lido no seu todo.
É provável que ainda o encontrem em alfarrabistas ou na
Casa da Achada, sede do Centro Mário Dionísio.
O quê? Projectos? Mais projectos? Coço a cabeça, meio envergonhado. Um homem com esta idade! Terei tempo sequer para metade deles?
Vale-me então um espírito maligno, género anãozinho da floresta
(outra vez a floresta...) que me pousa no ombro enquanto escrevo ou pinto e que
me diz, gozão: «Inquietas-te porquê? Que falta é que tudo isso faz?» E, com
esta, arruma-me de vez: «Estás convencido de teres estado sempre certo?»
A defesa, abro o meu irregularíssimo Diário num dia de 63, aí
calhou, e leio-o como se a data fosse a de hoje: «Não queiras que cada página
seja um monumento. Não queiras tudo. E o melhor caminho para não encontrares
nada. Não te sintas esmagado pelos grandes nem condoído com a falência dos que
detestas ou desprezas ou apenas lamentas. Escreve. Esquece tudo, tapa os
ouvidos, mete-te bem na tua experiência, só na tua experiência. Grande ou
pequena, é o que tens. Não desanimes, não desistas, não te perturbes com a
indiferença dos outros, não te entusiasmes com os aplausos dos outros.
Escreve! Escreve!».
Mário Dionísio em Autobiografia
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