A 1 de Fevereiro de
1970, José Gomes Ferreira inicia o 9º volume dos seus Dias Comuns que subtitulou como «Derrota
Pairante»:
Inicio este novo Diário com o pressentimento da Derrota das Ilusões da
Clássica Oposição Democrática, agora definitivamente batida – sente-se no ar,
no cansaço das gerações recentes, nos bocejos dos velhotes -, náufragos da 1ª
República. Aliás serão talvez os adeptos das concepções mais próximas do Regime
implantado em 1910 os primeiros a baixar as armas, esperançados numa Salvadora
Solução marcelista. Embora os tecnocratas progressivos acudam, com mais
entusiasmo, a preencher os lugares por
que há muito suspiravam e julgavam merecer.
Felizmente surge, também, com dureza implacável, uma nova oposição
caldeira fervente de socialismos ainda imprecisos…
Mas a vitória socialista vem distante… por enquanto só é visível a
Derrota… A Derrota Pairante… dos que vão receber prémios ao Secretariado… Dos
que aceitam este ou aquele lugar por «motivos técnicos»… Sei lá!
Ficarão apenas meia dúzia dos fixes dos velhos tempos, tal como ainda
hoje existem monárquicos do Partido Regenerador e Sebastianistas do Sapateiro
saulo Inicio este novo Diário com o pressentimento da Derrota das Ilusões da
Clássica Oposição Democrática, agora definitivamente batida – sente-se no ar
Ou não, claro. Eu não. Eu adiro à nova Oposição. À da caldeira.
Ontem, durante a reunião-jantar em casa do Fafe (fez anos) – onde se
acotovelavam várias gerações oposicionistas -, reparei que o tema central das
conversas portuguesas continua a ser a polícia, a Cadeia, as atrocidades da
PIDE, a forma como foram presas, etc., etc.
Já começam todos a sentir saudades desses belos tempos da Cadeia.
José Gomes Ferreira
em Dias Comuns IX Volume
Legenda: Maria Velho
da Costa, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Baptista-Bastos, José Gomes
Ferreira («Sou um revolucionário romântico»)
e Alexandre Cabral, na Livraria Moraes, no lançamento do 1º volume da «Poesia
Militante», Novembro de 1977.
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