Mulher de Porto Pim
e outras histórias
Antonio Tabucchi
Prólogo: Antonio
Tabucchi
Tradução: Mari Emíli
Marques Mano
Capa: Rogério Petinga
Difel, Lda, Lisboa
s/d
Post Scriptum
Uma baleia vê os
homens
Sempre tão atarefados, e com longas barbatanas que agitam com
frequência. E como são pouco redondos, sem a majestosidade das formas acabadas
e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel onde parece encontrar-se toda a
sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar mas não nadam, quase como se
fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e graciosa ferocidade.
Permanecem longo tempo em silêncio, mas depois entre eles gritam com fúria
repentina, com um amontoado de sons que quase não varia e aos quais falta a
perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como
deve ser penoso o seu amar-se: e áspero, quase brusco, imediato, sem uma capa
de gordura, favorecido pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica
dificuldade da união nem os magníficos e ternos esforços para a realizar.
Não gostam da água e têm medo dela, e não se percebe porque a
frequentam. Também eles andam em bandos mas não levam fêmeas e adivinha-se que
elas estão algures, mas são sempre invisíveis. Às vezes cantam, mas só para si,
e o seu canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento angustiado.
Cansam-se depressa, e quando cai a noite estendem-se sobre as pequenas ilhas
que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a Lua. Vão-se embora
deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.
Sem comentários:
Enviar um comentário