quarta-feira, 5 de setembro de 2018

OLHAR AS CAPAS


A Fera Tem de Morrer

Nicholas Blake
Tradução: Lima da Costa
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº 162
Livros do brasil, Lisboa s/d

20 de Junho de 1937 – Vou matar um homem. Não sei o seu nome, não sei onde vive, não tenho ideia de com quem ele se parece. Mas vou descobri-lo e matá-lo…
Deve perdoar-me esta abertura melodramática, amável leitor. Soa a passagem duma das minhas novelas policiais, não é? Sòmente acontece que esta história nunca será publicada, e que o «amável leitor» é uma delicadeza convencional. Proponho-me cometer o que o mundo chama «um crime»; todos os criminosos, que não têm cúmplices, precisam de um confidente: a solidão, o isolamento aterrador e a emoção do crime são também demasiadamente fortes para que um homem os possa manter dentro de si. Mais cedo ou mais tarde contará tudo  e, se ele se mantiver firme, o seu super-ego atraiçoá-lo-á – aquele moralista estrito com quem brinca ao gato e ao rato, umas vezes furtivo, outras timorato, outras, ainda, absolutamente seguro, forçando o criminosos a dobrar a língua, induzindo-o às confidências, pondo-o a nu, fazendo de agente provocador. Todas as forças da lei e da ordem seriam impotentes contra um homem completamente destituído de consciência. Mas bem dentro de todos nós existe aquele impulso para fazer sacrifícios – um sentimento de culpa, o traidor de portas a dentro. Somos denunciados pelo que ele tem de falso. Se a língua se recusa a confessar, as acções involuntárias o farão. É por isso que o criminoso volta à cena do crime. É por isso que estou a escrever este diário. Você, meu leitor imaginário, hipócrita, meu semelhante, meu irmão, vai ser o meu confessor. Não lhe esconderei nada. Será você quem me salvará da forca, se isso for possível.

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