A Fera Tem de Morrer
Nicholas Blake
Tradução: Lima da
Costa
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº
162
Livros do brasil,
Lisboa s/d
20 de Junho de 1937 – Vou matar um homem. Não sei o seu nome, não sei
onde vive, não tenho ideia de com quem ele se parece. Mas vou descobri-lo e
matá-lo…
Deve perdoar-me esta abertura melodramática, amável leitor. Soa a
passagem duma das minhas novelas policiais, não é? Sòmente acontece que esta
história nunca será publicada, e que o «amável leitor» é uma delicadeza
convencional. Proponho-me cometer o que o mundo chama «um crime»; todos os
criminosos, que não têm cúmplices, precisam de um confidente: a solidão, o
isolamento aterrador e a emoção do crime são também demasiadamente fortes para
que um homem os possa manter dentro de si. Mais cedo ou mais tarde contará
tudo e, se ele se mantiver firme, o seu
super-ego atraiçoá-lo-á – aquele moralista estrito com quem brinca ao gato e ao
rato, umas vezes furtivo, outras timorato, outras, ainda, absolutamente seguro,
forçando o criminosos a dobrar a língua, induzindo-o às confidências, pondo-o a
nu, fazendo de agente provocador. Todas as forças da lei e da ordem seriam
impotentes contra um homem completamente destituído de consciência. Mas bem
dentro de todos nós existe aquele impulso para fazer sacrifícios – um sentimento
de culpa, o traidor de portas a dentro. Somos denunciados pelo que ele tem de
falso. Se a língua se recusa a confessar, as acções involuntárias o farão. É
por isso que o criminoso volta à cena do crime. É por isso que estou a escrever
este diário. Você, meu leitor imaginário, hipócrita, meu semelhante, meu irmão,
vai ser o meu confessor. Não lhe esconderei nada. Será você quem me salvará da
forca, se isso for possível.
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