Qualquer dia tens finalmente de contar a alguém, talvez a teu filho, ao nosso
filho, refractário indivisível, que te amei muito e fazia bem amor contigo. Uma
vez, hoje, tomámos banho nus, ouvimos o Requiem KV 626, trouxeste a pêra parda
cozida até à água transbordante; depois vesti-me com a camisola comum e fui,
vou comprar a canela para fazeres o arroz. Com a canela compro sempre um pouco
de proa ao vento azul do velho barco de um oriente de estampa, criado na pátria
de água doce. Ao regressar, subindo a rua, amo-te. O futuro ainda vai no adro;
a leve aragem do indicativo presente ondula o ar, mas quase não há fronteiras,
tempos verbais, margens, e se não houvesse as colheitas de castanhas, não sabia
soube que é era será outono no outeiro chamado mais exactamente outubro segundo
o calendário gregoriano.
Jorge Listopad
de Primeiro Testamento em Fruta Tocada por Falta de Jardineiro
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