domingo, 23 de setembro de 2018

OUTONO


Qualquer dia tens finalmente de contar a alguém, talvez a teu filho, ao nosso filho, refractário indivisível, que te amei muito e fazia bem amor contigo. Uma vez, hoje, tomámos banho nus, ouvimos o Requiem KV 626, trouxeste a pêra parda cozida até à água transbordante; depois vesti-me com a camisola comum e fui, vou comprar a canela para fazeres o arroz. Com a canela compro sempre um pouco de proa ao vento azul do velho barco de um oriente de estampa, criado na pátria de água doce. Ao regressar, subindo a rua, amo-te. O futuro ainda vai no adro; a leve aragem do indicativo presente ondula o ar, mas quase não há fronteiras, tempos verbais, margens, e se não houvesse as colheitas de castanhas, não sabia soube que é era será outono no outeiro chamado mais exactamente outubro segundo o calendário gregoriano.

Jorge Listopad de Primeiro Testamento em Fruta Tocada por Falta de Jardineiro

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