Nasci para Nascer
Pablo Neruda
Tradução:
Eduardo Saló (texto
em prosa)
Mário Dionísio
(poemas)
Colecção Estudos e
Documentos nº 159
Publicações
Europa-América, Lisboa
Nas nossas Américas há achados: em ilhas desabitadas ou selvas
irascíveis debaixo da terra depressa se encontram estátuas de ouro, pinturas na
pedra, colares de turquesa, cabeças imensas vestígios de inúmeros seres
desconhecidos que se têm de descobrir e nomear para que respondam do seu silêncio
secular.
Se, numa ilha nossa, se encontrassem as capas sucessivas de Picasso, a
sua monumental abstracção, a sua criação rupestre, as suas jóias exactas, os
seus quadros de felicidade e terror, os arqueólogos, assombrados, procurariam
os habitantes, as culturas que tanto fizeram acumulando jogos e milagres
fabulosos.
Picasso é uma ilha. Um continente povoado por argonautas, caraíbes,
touros e laranjas. Picasso é uma raça. No seu coração, o Sol nunca se põe.
(Escrito por motivo da celebração, em Paris, do 90º aniversário de
Picasso, Outubro de 1971)
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