terça-feira, 25 de setembro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Nasci para Nascer

Pablo Neruda
Tradução:
Eduardo Saló (texto em prosa)
Mário Dionísio (poemas)
Colecção Estudos e Documentos nº 159
Publicações Europa-América, Lisboa

Nas nossas Américas há achados: em ilhas desabitadas ou selvas irascíveis debaixo da terra depressa se encontram estátuas de ouro, pinturas na pedra, colares de turquesa, cabeças imensas vestígios de inúmeros seres desconhecidos que se têm de descobrir e nomear para que respondam do seu silêncio secular.
Se, numa ilha nossa, se encontrassem as capas sucessivas de Picasso, a sua monumental abstracção, a sua criação rupestre, as suas jóias exactas, os seus quadros de felicidade e terror, os arqueólogos, assombrados, procurariam os habitantes, as culturas que tanto fizeram acumulando jogos e milagres fabulosos.
Picasso é uma ilha. Um continente povoado por argonautas, caraíbes, touros e laranjas. Picasso é uma raça. No seu coração, o Sol nunca se põe.

(Escrito por motivo da celebração, em Paris, do 90º aniversário de Picasso, Outubro de 1971)

Sem comentários: