Pontas soltas de
perguntas e respostas na entrevista que Mário Santos fez a Luiz Pacheco,
antologiada em O Crocodilo Que Voa:
Aliás, parece que a
necessidade é que desde sempre o estimula a escrever…
Claro. Mas eu vou fazer umas merdas duns artigos para uns jornais de
merda, ou uns editores de merda, fazer artigalhadas para ganhar uma trampa? Não
preciso! Tenho dinheiro que chegue para o quarto, a roupa é dada! E de repente
considerei-me morto! Durante os últimos dez ou oito anos lia policiais e livros
de cowboys… Quando vim para aqui disse: agora tenho que me defender! E
trabalhei mais agora aqui, desde Abril do ano passado do que em dez anos.
Deixou os policiais e
os cowboys. Tem lido o que se publica por aí»
Tudo! Aí é que está a gaita. Não há nenhum gajo que tenha agora
publicado que eu não tenha comprado… Comprei Estrela de Seis Pontas, do meu camarada Álvaro Cunhal, e gostei
muito. Cinco Noites… é uma merda, mas este é muito bem feito.
Mas você próprio não
«exibiu» essa imagem?
Repare nas minhas calças: sou o gajo das calças curtas. Porquê?
Porque não mando fazer um fato desde 1957 ou 1958! E por caso tinha um
bom alfaiate, mas o último fato não o paguei e nunca mais lá fui… «O gajo anda
de calças assim para provocar, para se mostrar original.» Não é! Eu vejo aí é
calças a três e quatro contos, e eu ia dar três contos por um par de calças?
Jamais de ma vie, porra! Se me dão calças compridas, visto-as, dão-me curtas,
eu visto-as! Quero lá saber… São dadas! Essa carneirada acha de mim uma coisa,
eu acho deles, outra! Agora, isto não tem nada a ver com a obra que fiz!
A ideia da morte
perturba-o?
Estou sempre à espera
de não acordar no dia seguinte! Aliás, tenho um problema de que não se vai rir:
como é que eu vou avisar que estou morto? Já me perguntaram porque é que eu não
ponho o telefone ao pé da cama… Olha que ideia fantástica! O meu filho do Pinhal
Novo agora vem cá muitas vezes, o meu filho do Montijo nunca aqui veio… E está
no Montijo, tem carro, estava aqui em meia hora! Morro e ao fim de oito dias
está aqui um fedor que não se pode… Quero lá saber! Mas eu tenho uma vida tão
doente, que sou é um moribundo alegre, tenho espírito de convalescente… Mas já
estou a ficar chateado disto… Fui criado numa casa com muita gente e aqui estou
muito sozinho…
Legenda: pormenor da
capa do livro Mano Forte
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