Um plano perfeito, tão perfeito que bastara uma complicação de nada
para o mandar por terra. E aqui estou eu, sem saber o que fazer agora, o último
vijante à espera nesta estação donde não parte e aonde não chega nenhum comboio
antes de amanhã de manhã. É a hora em que a pequena cidade de província de
fecha na sua casca. No bar da estação ficaram só pessoas da terra que se
conhecem todas umas às outras, pessoas que nada têm a ver com a estação mas que
vêm até cá através da praça escura, ou por não terem mais nenhum local aberto
aqui á volta, ou talvez pela atracção que as estações continuam a exercer nas
cidades de província, aquele toque de novidade que se pode esperar das
estações, ou se calhar apenas pela lembrança do tempo em que a estação era o
único ponto de contacto com o resto do mundo.
Escusado será dizer que já não há cidades de província e que talvez até
nunca tenha havido: todos os lugares comunicam com todos os lugares
instantaneamente, só se tem uma sensação de isolamento durante o trajecto de um
lugar para outro, isto é quando não se está em lugar nenhum.
Italo Calvino em Se Numa Noite de Inverno Um Viajante
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