terça-feira, 17 de agosto de 2021

ADEUS POR UM CASACO


É tempo de dizer, agora que o Verão chegou e está um calor de ananases, que o meu velho casaco de lã, fez o seu último Inverno.

Pela Primavera agora finda, ainda o vesti porque o sol andou por ela dentro com uns farrapos meio parvos e à noite apetecia uma lãzinha.

Comprei-o na primeira Festa do Avante na Quinta da Atalaia, em 1990, no pavilhão de Vila do Conde e sempre me cheirou a mar.

Quando senti que andava a dar as últimas, tentei, por diversas vezes, encontrar um outro semelhante, mas nunca consegui.

Olhava-os mas sentia logo que não correspondiam à imagem e cheiro do meu velho casaco.

Nos últimos invernos, a Clementina, minha sogra, foi-o gatando com uns pedaços de lã e linha, disfarçava, mas não vai dar mais.

A minha neta Maria, já no passado ano, dissera: o avô anda tão mal vestido.

Tentei explicar-lhe que me sentia maravilhosamente bem dentro daquele casaco mas ela mandou-me um tá bem abelha!

O próximo Inverno já não me encontrará com ele vestido.

Não sou de lágrima fácil, mas senti necessidade de lhe deixar, como profundo agradecimento, um adeus e acrescentar-lhe esta velha canção da Dolly Parton.

Também a esperança que um dia encontre um substituto à altura do seu conforto.

Pelo andar da carruagem, débil esperança…

Ou por outra: resta-me a desesperança de não mais entrar num casaco assim.


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