A
João Rui de Sousa pelo seu aniversário
Il
ne se passe pas grand - chose... mais à condition d´être suffisamment attentif,
on
trouve toujours des petits détails à raconter
Patrick
Deville (Longue Vue)
...é
sempre de um outro para um outro
no
vazio numa distância
num
espaço branco
propício
à imagem
a
uma metamorfose talvez
talvez
porque
não
perdemos a possibilidade de admirar
o
simples insignificante na singularidade indizível
talvez
o espaço a cor o gosto
de
respirar através de uma sombra
o
gosto de um fruto
um
fragmento do indivisível
e
a ignorância de ver
no
ébrio entusiasmo paciente
de
sermos nada
na
lentidão vaga da visão
entre
duas cores ou dois matizes de uma cor
o
amarelo e o dourado
a
música de uma sombra diluída
fronteira
flutuante entre duas sílabas
um
pequeno pormenor a génese indecisa
de
um começo
de
uma outra sintaxe
que
respira
como
o azul no cinzento
a
cor viva de um enigma amoroso
Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou
uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou
um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não
tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De
súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A
minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com
esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O
que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto
a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa
e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não
estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero
conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não
sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António
Ramos Rosa
Desenho
pintado por Aida Santos
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