O Cachecol do Artista
Luiz Pacheco
Contraponto, Lisboa
Janeiro 1965
Meditei doze meses
neste problema. E a conclusão é que só me resta apelar, apelar sempre, esconder
a careca e a vergonha (que haja) e estender a pata. Apelar par o Ministro e
para o Secretário. Apelar para o Leal! e para ao amigos, os Mecenas, os
Vizinhos, os Desconhecidos.
O ARTISTA PRECISA DE UM
CACHECOL!
Pode ser que
conheças, Leitor, qualquer artista na necessidade: não o desampares, muito
especialmente por estes dias de Inverno. E não conhecendo, e querendo, não
faças cerimónia: manda o que puderes.
Aceitamos tudo:
Dinheiro, cigarros,
fatiota, roupas de cama, mercearias, BACALHAU, brinquedos, livros
esferográficas, papel de máquina, vitaminas, uma corneta (para eu tocar num dia
que cá sei), viagens pelo Continente, estadias em casas de muito sossego,
garrafas de vinho, revistas com nus (são para mim), um casaco de abafar (é para
a minha senhora), bolas de Berlim, salsichas, passas e nozes, tâmaras, um osso
com tutano para o caldo da Géninha, lâminas de barba, o perdão das nossas
dívidas, uma assinatura do Jornal de Letras e Artes (minha leitura predilecta,
bolo-rei, bolsa da Gulbenkian (proposta: uma biografia do Bocage), uma caixa de
bombons, passarinhos assados, orelheira de porco, latas de conserva (gostamos
de qualquer marca), etc., etc., etc,
O Artista agradecido
Luiz Pacheco
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