sábado, 30 de março de 2013

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Não vi todos os filmes de Alfred hitccock.

O ciclo sobre Hitchcock que, durante o mês de Março, a Cinemateca esteve a exibir, serviu para recticar algumas lacunas.

Levei algum tempo a perceber, e a gostar, de Hitchcock.

Cada um tem os seus gostos, os seus olhares, mas se tivesse que mencionar os meus cinco filmes preferidos de Httchcock, a lista ficava assim:

A Janela Indiscreta
Vertigo
39 Degraus
O Homem Que Sabia Demais
Os Pássaros.

Quando François Truffaut esteve largamente, muito largamente, à conversa com Alfred Hitchcock, disse-lhe que de todos os seus filmes, os preferidos eram Difamação e Janela Indiscreta.


Devido a um acidente, um repórter fotógrafo L. B. Jeffries (James Stewart) ficou imobilizado no seu apartamento, com uma perna engessada. Como entretenimento para as horas que passam, observa os comportamentos dos vizinhos do prédio em frente: uma solteira desesperada por companhia, um músico que tenta encontrar a inspiração nas bebidas alcoólicas, um casal que mima o cão como se fosse um filho… isto até ao momento em que a observação de Jeff o leva a suspeitar que um crime foi cometido no prédio e o fotógrafo decide envolver a sua noiva (Grace Kelly) e um detective amigo (Wendell Corey) numa perigosa investigação. A evolução dos acontecimentos dá-lhe razão e, por fim, o assassino (Raymond Burr) atravessa o pátio e atira pela janela o nosso repórter que escapa… com a outra perna partida.

O filme é um apanhado de pequenas histórias que se desenrolam no pequeno mundo das traseiras de um prédio.

James Stewart  era um voyerur.  Lembro-me (Hitchcock a falar com Truffaut) de uma crítica a propósito. A menina Lejeune escreveu no London Observer que Rear Window era um filme «horrível» porque havia um tipo a olhar constantemente pela janela. Penso que ela não deveria ter escrito que era horrível. Sim, o homem era um voyeur, mas não seremos todos voyeurs?


Garanto-lhe que nove em cada dez pessoas, se virem do lado de lá do pátio uma mulher a despir-se antes de se deitar ou simplesmente um homem a arrumar o quarto, não conseguem evitar o olhar. Poderiam desviar o olhar, dizendo: »Isto não é não me diz respeito»; poderiam fechar as persianas, mas, ora! Não fazem nada disso, ficam a olhar.


O cinema está repleto de brilhantes e comovedoras cenas de beijos. 

As cenas finais do Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore, são uma montagem feita a partir dos cortes de cenas de beijos, e outras, que o padre, censor-mor-da-comunidade, determinava, depois de, sem sombra de pecado, se ter regalado a ver tudo.

Há quem diga que os beijos que Grace Kelly, o vulcão debaixo de gelo, como lhe chamava Hitchcock, troca com James Stewart neste filme,  são dos mais belos  da história do cinema. François Truffaut, se não o afirma categoricamente, está perto disso. João Bénard da Costa pensa que o mais belo será entre John Wayne e Maureen O´Hara em O Homem Tranquilo. 

Estas coisas valem o que valem… pelo que, sem qualquer classificação beijocal, apenas direi que são grandes momentos de cinema.

 A primeira aparição de Grace Kelly, no apartamento de James Stewart ,dá-se sem nós a vermos, apenas a sua sombra vai-se desenhando na face de James Stewart que está sentado, a dormitar, na cadeira de rodas.

 Entretanto acorda e beijam-se. 


A outra cena é quase no final do filme. 


James Stewart, para fugir ao criminoso estatela-se no pátio e parte a outra perna. Deitado no chão vê o rosto de Grace Kelly aproximar-se do seu.seu. Ela não o beija, mas uma madeixa de cabelo vai caindo lenta e suavemente sobre o rosto de Stewart.


É agora o tempo de vos apresentar dois diálogos do filme.


Logo a abrir, o longo diálogo entre a enfermeira e James Stewart, é um primor de graça.  Na troca de palavras, vindo a talhe de foice a inteligência, a enfermeira diz-lhe: 

Inteligência: Nada tem causado tanto sarilho à raça humana!

O outro diálogo ocorre durante uma das conversas entre Jeff e Lisa, quando esta faz desesperadas tentativas para provocar o casamento com Jeff, que não  está muito virado para isso:

Lisa – Gostava de ser criativa!

Jeff – Mas tu és minha querida! Tens um grande talento para criar situações difíceis!

Lisa – Achas?

Jeff – Claro! Como passar a noite aqui sem seres convidada.

Lisa – A surpresa é o mais importante elemento do ataque.

Do texto da Cinemateca:

Pode chamar-se-lhe um «filme de câmara». A notável articulação entre os espaços do interior do apartamento de Stewart e o pátio e as traseiras dos vizinhos é o resultado de
Um dos mais fabulosos trabalhos de designing da história do cinema. 

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