Se a uma grande parte dos jovens de hoje o 25 de Abril já diz muito pouco, então sobre o 11 de Março não lhes diz nada.
Ainda hoje, o 1 de Março, é um passo da nossa história que não se encontra devidamente estudado.
Talvez daqui por uns anos se faça outro tipo de luz ou se continue a manter a ideia de que mais não foi do que uma farsa, com fins preconcebidos, mas mal elaborada, mal representada.
Outra coisa não seria de esperar da coronelada, da generalada, a célebre brigada do reumático, saudosa da ditadura.
No dia 6 de Março, a revista francesa «Témoignage Chrétien» publica uma notícia que revela: «Spínola prepara um golpe de Estado em Portugal», afirmando que Spínola receber luz verde do embaixador dos Estados Unidos, Frank Carlucci, para tentar subverter o processo revolucionário iniciado em Portugal.
Varela Gomes, no seu livro Sobre os Golpes Contra-revolucionários de 11 de Março e de 25 de Novembro de 1975:
Considero o acontecimento em 11 de Março de 1975, como um golpe contra-revolucionário integrado na poderosa e persistente ofensiva montada pela reacção interna e internacional contra o 25 de Abril/Revolução (distinguindo do 25 de Abril/Golpe de Estado), cujas outras duas datas culminantes a montante e a jusante r4espectivamente, foram 28 de Setembro de 1974 e 25 de Novembro de 1975.
CARTA DE JC A MARTA TENTANDO NARRAR AS PERIPÉCIAS DUM DIA TÃO INCRÍVEL QUE PARECE FICTÍCIO
Lx, 11-3-75
Querida Marta,
absurda e obtusa acção de fogo, fala-se numa #matança da Páscoa” que o lobo mau prepararia a fim de cortar uma série de cabeças. Quem meteu isto nas fracas cabeças assim ameaçadas, ou se elas próprias inventaram tal estória, ignoro-o. Um ano de revolução permanente, ardentemente sonhada por nós leitores de Lev, começa a fatigar a burguesia que no início a ela aderiu por curiosidade ou simples desejo de mudar, como se fosse novo vestido ou penteado. Agora volta a vir ao de cima o nosso secular cepticismo, indiferença, fatalismo, transformado em gesto nacional o encolher-de-ombros de outrora conhecido. A fase de instrução colectiva luta agora contra as forças da inércia. Dizia mestre Lev: à fusão criadora do consciente com o inconsciente é que se chama inspiração. No momento em que a inércia tenta tomar conta do prec, uma espécie de usura apodera-se das pessoas, passam a pensar em termos de contabilidade, esquecem que com usura nenhum homem tem casa de boa pedra, que a usura é uma praga, que com usura, pecado contranatura, talvez se chegue ao poder, não se chega à liberdade. Também eu não chego a nenhum lado, a não ser aos exames que não sei se se fazem. De resto para que serve estudar leis num país que quero deixar? Ainda por cima leis tornadas diariamente arcaicas pela constante inflação da legislação, inflação só semelhante à da nossa moeda, pobre dela.
Da próxima vez prometo carta diferente, falando mais de mim que do prec que afinal te não interessa. Pergunto-me se eu te interesso.
Almeida Faria Lusitânia, Edições 70 Lisboa Dezembro de 1980
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