quarta-feira, 27 de março de 2013

DE BARBAS E BIGODES


No seu nº 1854, 27 de Março de 1975, de A Vida Mundial, o jornalista Fernando Dacosta fazia uma síntese, a atirar para o humor, do pós actuação, incompetente e patética, de Spínola e sus muchachos, nos acontecimentos do 11 de Março:

Imagine-se Spínola de barbas e bigodes artificiais a atravessar, clandestinamente, uma fronteira qualquer em direcção à Espanha. Deve ter sido o que ele pensou ao decidir-se ao incluir na sua bagagem, às vésperas da intentona de 11 de Março, aqueles disfarces, agora recolhifos e que – é uma sugestão – naturalmente, devem ser conservados para um museu sobre o fascismo luso…

O lusitanismo-africanista do ex-general põe-no agora a comer mamões, no Brasil, “uma fruta que ele aprendeu a gostar em África” – disse um dos sesu acompanhantes, em São Paulo.

É um homem meticuloso – afirmava o seu antigo chefe de cerimonial em Belém.” – Chega mesmo a ir verificar, antes da chegada dos sues convidados, se a mesa do jantar está bem posta…”

…. Meticulosamente Spínola contou as armas de que precisava (granadas de mão, quatro metralhadoras e uma espingarda de assalto, uma pistola metralhadora, armas automáticas de origem soviética, várias pistolas e grande quantidade de munições) para se escapar até Espanha, a estas juntou duas malas e dois sacos de viagem, mais uma pasta de documentos e a mulher Dona Maria Helena, e, atrás de um helicanhão, abandonou Tancos, num helicóptero. Noutros três seguiram 16 oficiais, seus companheiros de intentona.

Numa das malas, roupas deles e da mulher, a farda de general com as condecorações, farda de cerimónia, uma outra de serviço, objectos de higiene, jóias e, num fundo falso, as barbas e bigodes postiços. Nada disso levou para o Brasil. Ficaram ainda, um bastão, o seu conhecido pingalim e os meios-óculos que punha ao ler os seus discursos na televisão. O monóculo foi com ele.

Os quatro helicópteros e todo este material regressaram a Tancos, na sexta-feira 21. Os militares da Base Aérea de Talavera la Real, onde Spínola ficou por quatro dias, devolveram aos oficiais e sargentos portugueses que foram recambiar os aparelhos, até mesmo os invólucros das balas deflagradas pelos golpistas.

Hoje, resta apenas um homem de monóculo, comedor de frango assado “a noisette”, com ervilhas e cenoura – o seu almoço antes de deixar São Paulo para residir no Rio…

Ah! E a certeza de que: ao comprar barbas e bigodes para servir de disfarce sabia muito bem no que estava metido e não foi para Tancos enganado como chegou a dizer…

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