No seu nº 1854, 27 de Março de 1975, de A Vida Mundial, o jornalista Fernando Dacosta fazia uma síntese, a atirar para o humor, do pós actuação, incompetente e patética, de Spínola e sus muchachos, nos acontecimentos do 11 de Março:
Imagine-se Spínola de
barbas e bigodes artificiais a atravessar, clandestinamente, uma fronteira
qualquer em direcção à Espanha. Deve ter sido o que ele pensou ao decidir-se ao
incluir na sua bagagem, às vésperas da intentona de 11 de Março, aqueles
disfarces, agora recolhifos e que – é uma sugestão – naturalmente, devem ser
conservados para um museu sobre o fascismo luso…
O lusitanismo-africanista
do ex-general põe-no agora a comer mamões, no Brasil, “uma fruta que ele
aprendeu a gostar em África” – disse um dos sesu acompanhantes, em São Paulo.
É um homem
meticuloso – afirmava o seu antigo chefe de cerimonial em Belém.” – Chega mesmo
a ir verificar, antes da chegada dos sues convidados, se a mesa do jantar está
bem posta…”
…. Meticulosamente
Spínola contou as armas de que precisava (granadas de mão, quatro metralhadoras
e uma espingarda de assalto, uma pistola metralhadora, armas automáticas de
origem soviética, várias pistolas e grande quantidade de munições) para se
escapar até Espanha, a estas juntou duas malas e dois sacos de viagem, mais uma
pasta de documentos e a mulher Dona Maria Helena, e, atrás de um helicanhão,
abandonou Tancos, num helicóptero. Noutros três seguiram 16 oficiais, seus
companheiros de intentona.
Numa das malas,
roupas deles e da mulher, a farda de general com as condecorações, farda de cerimónia,
uma outra de serviço, objectos de higiene, jóias e, num fundo falso, as barbas
e bigodes postiços. Nada disso levou para o Brasil. Ficaram ainda, um bastão, o
seu conhecido pingalim e os meios-óculos que punha ao ler os seus discursos na
televisão. O monóculo foi com ele.
Os quatro
helicópteros e todo este material regressaram a Tancos, na sexta-feira 21. Os
militares da Base Aérea de Talavera la Real, onde Spínola ficou por quatro
dias, devolveram aos oficiais e sargentos portugueses que foram recambiar os
aparelhos, até mesmo os invólucros das balas deflagradas pelos golpistas.
Hoje, resta apenas um
homem de monóculo, comedor de frango assado “a noisette”, com ervilhas e
cenoura – o seu almoço antes de deixar São Paulo para residir no Rio…
Ah! E a certeza de
que: ao comprar barbas e bigodes para servir de disfarce sabia muito bem no que
estava metido e não foi para Tancos enganado como chegou a dizer…
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