sábado, 9 de março de 2013
ENSAIOS DA PRIMAVERA
Mais importante que a Primavera é estarmos à espera dela.
Sempre.
Em Coimbra, por um Março de 1942, tem empo de segunda guerra mundial, Miguel Torga escrevia no seu Diário:
Há momentos nestes primeiros ensaios da primavera em que parece que é por um tris que a verdade última da vida não rasga o seu véu misteriosos e aparece toda nua diante dos olhos do mundo. Ou porque um pássaro acabou por encontrar o sítio para fazer o ninho, ou porque uma flor começou a abris, ou por qualquer outra razão que se não vê, as árvores param de mexer, as aves param de cantar, as águas param de correr, e um grande silêncio de espectativa pura pira na cósmica alegria de tudo. A natureza parece inteira em jejum de comunhão.
Mas os segundos passam, aquela tensão exaspera-se, começa a bulir uma folha, a trinar um melro, a murmurar uma fonte e nada acontece.
Miguel Torga, Diário Vol. II, Edição do Autor, Coimbra 1943
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