Num ensaio, citado
por Bruno Vieira Amaral, sobre os Cadernos
de Albert Camus, Susan Sontag diz que a
sua obra vista unicamente como realização literária, não é suficientemente
grande para suportar o peso da admiração que os leitores lhe querem tributar
e que o juízo que se faz de Camus é
simultaneamente pessoal, moral e literário.
Sontag reconhece que
Camus foi amado como poucos escritores e que a sua morte foi sentida como uma
perda pessoal por todo o mundo literário.
Teria sido possível «crescer»
sem ter lido Camus?
Obviamente que não.
Continuar a ler O Estrangeiro, livro marcante, e encontrar sempre algo que antes
escapou ou que foi lido, naturalmente, com outros olhos, que pode ser um outro
sopro espesso e fervente do mar, o ruído do último eléctrico, passando nas ruas
do bairro, o agente de polícia dizendo a Raimundo «Tira o cigarro da boca
enquanto me estás a falar», o silêncio excepcional da praia no cair da tarde.
«Meus senhores, um
dia depois da morte da sua mãe, este homem tomava banhos de mar, iniciava
relações com uma amante e ia rir às gargalhadas, num filme cómico. Não tenho
nada a acrescentar»
Albert Camus nasceu
em Mandovi, Argélia a 7 de Novembro de 1913.
Faz hoje 100 anos.
O pai trabalhador agrícola, morre
na primeira batalha do Marne. Albert e a mãe vão residir para Argel para um
exíguo apartamento do bairro de Belcour.
O homem não é pobre
nem rico por aquilo que possui, mas sim por aquilo que pensa.
Depois de ler Albert
Camus nunca mais os meus dias foram iguais. De tanta gente que me influenciou, e
foram muitos, Albert Camus está nos lugares cimeiros.
A mãe costumava
dizer que nunca se é completamente infeliz.
Como escreveu Jean
Clauide Brisville:
Ler Camus é
ficarmos com vontade de lhe apertar a mão.
Albert Camus morreu
a 4 de Janeiro de 1960.
O carro em que
seguia, com o seu editor, descontrolou-se e embateu violentamente contra uma
árvore.
José Cardoso Pires, escreveu
então que nunca mais esqueceria a capa do Paris-Match que noticiava o absurdo insuportável da prematura morte
do escritor.
Como o sapateiro não
deve ir além da chinela, declara-se que não é recomendável paleio avulso sobre
Camus, antes o caminho razoavelmente acertado de coligir, por aqui, alguns trechos da sua obra.
Começar pelos Cadernos, não deixando de lembrar
que esta obra terá que ser vista como um acervo, um colocar de palavras,
ideias, outras coisas para desenvolvimento em futuros livros. Ou seja: uma mera
agenda de trabalho e nada mais.
Tal como deixou
escrito:
Outubro de 1946, 33
anos daqui a um mês.
A memória
fraqueja-me de há um ano para cá. Incapacidade de fixar uma história contada –
de lembrar trechos inteiros do passado, que, no entanto, foram bem vivos.
Enquanto isto não melhora (se é que melhora), é evidente que deve notar aqui
cada vez mais coisas, mesmo as pessoais. Porque afinal tudo se dispõe no mesmo
plano um pouco confuso, o esquecimento ganha também o coração. As emoções
tornam-se breves, desprovidas da longa ressonância que lhes dá a memória. A
sensibilidade dos cães é assim.
Pelos dias fora,
olhares por mais alguns livros de Camus.
Lembrar Catherine, filha de
Camus:
- Estás triste?
A resposta de volta:
- Não, apenas só!
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