Como atempadamente a própria disse, a Aida teve um tasco em
Almoçageme, ela bem me corrige, dizendo que era um Restaurante, mas para mim
sempre foi um tasco porque é a palavra de que mais gosto para nomear sítios
onde se come, onde se bebe, onde se conversa.
Enquanto por lá estivemos, muita gente entrou por aquelas portas dentro.
De entre os clientes lembro Duran Clemente.
Conversámos várias vezes, e questionado sobre tal, sempre me
disse que teria que correr muita água por baixo das pontes para que um dia se
saiba o que foi o 25 de Novembro de 1975.
O livrinho que Duran Clemente já escreveu, publicado em 1976 pelas Edições Sociais, é apenas um alinhavar de notas e
acontecimentos.
Não tinha qualquer intenção de referir a data, mas no blogue
Entre as Brumas da Memória, Joana Lopes colocou um texto de Duran Clemente sobre
o 25 de Novembro.
Porque é um texto importante, reproduzo-o com a devida vénia:
Manuel Duran Clemente deixou há dois dias este texto no meu mural do Facebook e, com a sua autorização, publico-o também aqui. Muitos leitores, provavelmente a maioria, discordarão do conteúdo e da forma peculiar e truculenta usada pelo autor. Mas é o que pensa hoje um dos ícones do (não) 25 do Novembro, aquele que ouvíamos naquela noite em nossas casas e a que foi retirada abruptamente a palavra, e faço questão de lhe «devolver» a voz.
Manuel Duran Clemente deixou há dois dias este texto no meu mural do Facebook e, com a sua autorização, publico-o também aqui. Muitos leitores, provavelmente a maioria, discordarão do conteúdo e da forma peculiar e truculenta usada pelo autor. Mas é o que pensa hoje um dos ícones do (não) 25 do Novembro, aquele que ouvíamos naquela noite em nossas casas e a que foi retirada abruptamente a palavra, e faço questão de lhe «devolver» a voz.
Finalmente foram precisos mais de 38 anos para hoje toda a gente ou a
sua maioria concluir que não houve nenhum golpe de esquerda...mas sim um
razoável golpelho de "medrosos" (duma direita merdosa) a maior parte
deles representando, conscientemente ou não, os que tinham perdido privilégios
no 25 de Abril de1974 e aos quais os meus camaradas, pouco cultivados nestas
coisas da política, incluindo Costa Gomes e outros experts - com Melo Antunes
[a comandar os "nove"], que não sabia de politica mais do que eu - se
associaram, não com medo do Partido Comunista nem dum guerra civil, mas sim com
medo dos poderosos americanos , suas CIA e FBIs, que a pronto mataram J. Kennedy
e Robert Kennedy, Luther King...Allende no Chile, Amilcar Cabral em Conakry,
Mondelane em Moçambique, estudantes no México, o Black Power,...e toda a réstia
de esperança dum ano de 1968 e de um Maio de 1968...E aqui na lusa pátria das
lutas de 1962, 1969 e 1973.....e dos heróis mortos, feridos e presos do PCP...e
dos de outras cores, católicos progressistas ou sociais-democratas, ditos
socialistas, exilados ou refractários por Franças, Bélgicas, Alemanhas, Suiças,
Holandas ou Escandinávias...terras das sereias.
No Portugal minimamente consciente…nunca ninguém teve medo do PCP, nem
de Vasco Gonçalves, nem do MFA...mas toda a gente sofreu e teve horror ao
fascismo, aos maus acólitos da igreja e aos nefastos caciques locais que hoje
ainda perduram...na direita, na igreja e nas localidades...
Por isso Melo Antunes após este episódio fratricida de 25 de Novembro
de 1975, que umas bestas pretendem ainda comemorar, debaixo do chapéu de chuva
de R.Eanes...dizia (a meu ver, eu suspeitíssimo) para salvar a sua pele e a dos
seus "alienados medrosos"... a democracia tem que contar com o
PCP...que o mesmo era dizer a democracia tem de contar com todos nós que
fizemos REVOLUÇÃO...que ele, como eu, fizemos...só com a diferença (por eu ser
comunista deste os 30 anos..ou desde que nasci) não tenho a Medalha da
Liberdade..(sendo dos primeiros dez a conspirar para o 25 de Abril). Coisa
formal na qual me estou nas tintas… só nas tintas não. Completamente nas
tintas...mas por mor dos meus pecados [acho que S.Pedro ma vai entregar à
entrada do Purgatório...].
Com a incultura destes militares adeptos de Melo Antunes e de Vasco
Lourenço e com pontas da lança dos EUA (desconhecidos destes e de outros
genuínos capitães de Abril) (CIAs, FBIs E CARLUCCIs) infiltrados desde sempre
no MFA e que me dispenso de nomear...até porque alguns jazem mortos ...que é
que se poderia esperar deste saloio rectangulozinho à beira-mar plantado...???
As promessas europeias dessa outra figura "ignorante" (ignorante como
revolucionário, sim...)??? Refiro-me a Mário Soares. É um intuitivo diletante
que esteve sempre atrás do biombo da Revolução...como hoje está ...!!!
A diferença é esta...a esquerda "derrotada" estava e está com
a Revolução...a dita "esquerda" vencedora está com o 25 de
Abril...mascarada de 25 de Novembro.
Como não há 25 de Abril sem REVOLUÇÃO...para que serve o 25 de
Novembro? Para, num momento destes, um dos mais graves da vida nacional, uns
espertalhaços que ficaram adormecidos com os louros dos 25 de Abril/Novembro,
conquistados por nós, se outorguem em dar força à direita e aos inimigos do
povo português...
Ramalho Eanes....um andrógeno do 25 de Abril e da REVOLUÇÃO... teve o
desplante [nesta era (hoje) sob resgate da troika] de aceitar ser homenageado
no dia 25 de Novembro..Se fosse um homem genuíno, do 25 de Abril, devia ter
dito que NÃO, redondamente e sem equívocos. Mas não..ao terceiro terço dos
mistérios dolorosos, da santa madre igreja, após salvé rainhas...de oh clemente
e oh piedoso.. que nem sei quem sois ..declarou aceitar a homenagem
fracturante. Mas como tem uma missa em Alcains...(terra do meu apreço pelo belo
cabrito que lá se esfola..) à qual prometeu não faltar...vai mandar a mulher
(D.M.Portugal) e sua filha, alimentar, no dito jantar, a gula dos vampiros da nossa
democracia...dos alegres e tristes algozes deste nosso burgo.
Mas sabem no fim disto tudo o que está em causa... é que alguns de nós
que nascemos para chatear os malandros (de vários níveis) andamos para aí a
espalhar que a culpa do que está a acontecer tem muito (quase tudo ou quase
nada, ou qualquer coisa) a ver com uma certa data de um Outono de 1975....em
que as nossas mais gloriosas esperanças (ao contrário dos dolorosos mistérios
do terço da Virgem Maria) foram decapitadas por inconscientes medrosos ou por
conscientes ao serviço do estrangeiro.
E, ao lado desse desígnio, militares, como Melo Antunes, (chefe dos
"nove") que passando por Bissau em Agosto de 1974 ,transpirava
(vulgo: suava) ao ter de enfrentar seus jovens Duran Clementes, Jorge Golias,
Faria Paulinos, Bouça Serranos, Jorge Alves, Barros Mouras, Celsos Cruzeiros,
Sousa Pintos, Matos Gomes e outros nobres capitães ou militares de ABRIL
..."assessores" ou "adjuntos" dum homem digno Carlos
Fabião...Eu estava junto de Fabião que de Bissau mandou o General Spínola dar
uma volta ao bilhar grande. Meus amigos, fui eu que traduzi, ao telefone, em
Julho de 1973... Isto porque o general do monóculo queria teimoso aterrar em
Bissalanca com as suas 27.000 fotografias para organizar mais um teatral e
“falso” congresso do povo guineense…numa última tentativa de abafara
descolonização e evitar o inevitável: a já declarada e reconhecida, por quase
100 países, independência da Guiné-Bissau!!! Nessa ocasião pasme-se Melo
Antunes ainda andava indeciso com a problemática descolonização. Por isso,
antes de morrer, declarou que ela tinha sido uma tragédia. Espero que tivesse,
no seu íntimo, responsabilizado essa “proclamada desventura” a António Salazar,
a Marcelo Caetano e à ditadura fascista.
Um exemplo da ética de Ramalho Eanes.
Mas ainda hoje se fala aos quatro ventos da ética de Ramalho Eanes.
Pois bem, vou-vos contar este acontecimento. Em 1977 o Conselho da Revolução
(CR) para apaziguar os militares resolveu promovera publicação dum Decreto-Lei
que reintegrava todos os militares “expulsos” das Forças Armadas em
consequência dos eventos do 11 de Março e do 25 de Novembro. A coisa foi
noticiada em caixa alta nos jornais. Só que esta aparente generosidade de Eanes
e dos seus membros do CR estava eivada dum manhoso subterfúgio. Os militares do
25 de Novembro não tinham sido formalmente expulsos, logo a lei não iria
aplicar-se a eles.. Depois de termos dado conta disso avisou-se Vasco Lourenço
(eu mesmo escrevi uma carta a Melo Antunes) inquirindo-os se tinham consciência
do logro. Estes discutiram o facto com Eanes. Afinal a lei não contemplava os
militares injustamente acusados de golpe no 25 de Novembro. Viemos a saber que
a ética de Ramalho Eanes impediu que o texto da lei fosse adaptado e nos contemplasse.
Éticas e manhas. Manhas e lógicas de medo e de falta de saber!!! Como hoje...
Continuarei ...se não houver problemas técnicos...há mais para
contar!!!
Manuel Duran Clemente
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