Há 19 anos morria Fernando Lopes-Graça.
Sabe-se a importância que tem na cultura portuguesa, nada
mais há a acrescentar, o importante é nunca esquecê-lo.
Fui buscar esta data por motivos que têm a ver a ver com o
problema da solidão em Fernando Lopes-Graça
Perguntado sobre essa história da solidão, o Alexandre O’
Neill respondeu:
A procurada é boa, a não procurada às vezes é chata.
Fernando Lopes, durante a sua vida, enfrentou grandes
dificuldades.
Nos anos 60 chegou a passar fome, a ditadura persegui-o
implacavelmente, mas toda a sua vida foi uma luta desesperada contra a solidão.
Em 1940 é-lhe proposto dirigir os Serviços de Música da
Emissora Nacional. Não chega a tomar posse do cargo porque recusa assinar a
declaração de repúdio activo do comunismo e de todas as ideias subversivas
que, então, era exigida a todos os funcionários públicos.
Numa noite em que o acompanhava até à sua casa na Parede,
Olga Prats ouviu-lhe a amargura:
Eu agora não queria ficar sozinho, fosse quem fosse, homem ou mulher,
rapaz ou rapariga, nem que fosse um cão.
Para os seus amigos era o Graça.
Para alguns, um homem brilhante e especial, para outros pessoa
de trato difícil., uns e outros sem nunca colocarem em cauda o ser uma das
grandes figuras da cultura portuguesa.
Na entrada que colocou no 1º volume dos Cadernos de Lanzarote,
dois dias depois da morte, de Lopes-Graça, José Saramago escreveu:
Morreu o Fernando Lopes-Graça.
Telefonaram hoje da TSF, muito cedo, para pedir-me, como depois verifiquei no
gravador, o cumprimento desse dever mediático a que se dá o nome de
depoimento. Deixaram números de telefone, mas não liguei. Por pudor acho eu. E
agora acabo de saber, por Carmélia, que o Graça morreu sozinho. Creio que esta
última solidão me doeu mais ainda que a própria morte. Não vai faltar quem diga
que o Lopes Graça morrendo aos 88 anos, tinha vivido já a sua vida. Como frase
de consolação, talvez sirva para quem se satisfaça com o que lhe foi dado. Por
mim, penso que nunca acabamos de viver a nossa vida.
Nesse dia, José Saramago não ligou para a TSF, mas dias depois,
escreveu um depoimento para o JL, que também pode ser lido nos Cadernos:
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