segunda-feira, 18 de novembro de 2013

OLHAR AS CAPAS


O Homem Que Via Passar os Comboios

Georges Simenon
Traduçao: Gemeniano Cascais Franco
Colecção Ficção Universal nº 74
Publicações Dom Quixote, Lisboa Agosto de 1990

No que toca pessoalmente a Kees Popinga, temos de admitir que às oito horas da noite ainda era tempo, pois que, assim como assim, o seu destino não estava fixado. Mas tempo de quê? E podia ele fazer outra coisa além do que ia fazer, persuadido aliás de que os seus gestos não tinham mais importância do que durante os milhares e milhares de dias anteriormente decorridos?
Encolheria os ombros se lhe dissessem que a sua vida ia mudar de repente e que aquela fotografia pousada sobre o aparador, que o representava de pé no meio da família, com uma mão despreocupadamente apoiada nas costas de uma cadeira, seria reproduzida por todos os jornais da Europa
Enfim, se procurasse dentro de si mesmo, em plena consciência, o que podia predispô-lo a um futuro tumultuoso, não se lembraria sem dúvida de uma certa furtiva, quase envergonhada, que o perturbava sempre que via passar um comboio, sobretudo um comboio nocturno, com os estores descidos sobre o mistério dos passageiros.

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