(Entro no café de
Monte Carlo. Revolução.)
Então aquela mulher desconhecida que me beijou
com boca de sol de punhal
saltou para cima da mesa
e pôs-se a cantar
com uma rosa na mão
onde ainda retine
o cristal
do coração
de Lenine.
«Ouve»... gritou-lhe um companheiro a meu lado...
deita essa flor fora!
«Foi feita em moldes de perfumes burgueses no centro da Terra
com hábitos de lume secular, beleza dirigida pela seiva
de repetição enigmática».
Então, no meio do café,
a mulher pisou a flor burocrática,
despiu-se
e com simplicidade de nudez de bandeira,
veio para a rua,
misteriosa,
entregar-se à multidão
com o destino de tornar mais livre e puro
o sonho de (todas as flores
no futuro.
Depois, ouviu-se um tiro
de propósito para a mulher cair morta.
Morta de tão longa...
Só nos olhos a mesma chama vermelha
que na rosa foi perfume
e agora na respiração do sol
ateia
magicamente no basalto,
uma raiva de pés de lume
que começou a caminhar, sonâmbula e sozinha,
na luta contra o sonho da solidez morta
que nos rodeia.
que na rosa foi perfume
e agora na respiração do sol
ateia
magicamente no basalto,
uma raiva de pés de lume
que começou a caminhar, sonâmbula e sozinha,
na luta contra o sonho da solidez morta
que nos rodeia.
E agora dêem-nos armas, palavras, gritos, versos, poetas,
navalhas, baionetas
para destruir
esta maldita teia!
José Gomes Ferreira em Poeta Militante 3º volume Moraes
Editores, Lisboa Janeiro de 1978.
Legenda: fotografia do Café Monte Carlo tirada do blog Duas ouTrês Coisas
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