Caderno II
Albert Camus
Tradução e Prefácio: António Quadros
Capa: Infante do Carmo
Colecção Miniatura nº 162
Edição Livros do Brasil, Lisboa s/d
Lucas, VII, 26:
«Pobre de ti, quando todos os homens disserem bem de ti.»
Para A Peste: Há
nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar.
«Creio cada vez
mais que não devemos estabelecer um juízo sobre Deus a partir deste mundo, que
não é senão um esboço que lhe saiu mal.»
Id. O que censuro
ao cristianismo, é ser uma doutrina de injustiça.
Com que direito um
comunista ou um cristão (para não falar senão nas formas respeitáveis do
pensamento moderno) me poderiam censurara por ser pessimista? Não fui eu quem
inventou a miséria da criatura, nem a s terríveis fórmulas da maldição divina.
Não fui eu quem disse que o homem era incapaz de se salvar sozinho e que no
fundo do seu rebaixamento, não haveria esperança definitiva a não ser na graça
de Deus. Quanto ao famoso optimismo marxista, deixem-me rir. Poucos homens
terão levado tão longe a desconfiança para com os seus semelhantes. Os
marxistas não acreditam nem na persuasão nem no diálogo. De um burguês não pode
fazer-se um operário e as condições económicas são no seu mundo fatalidades
mais terríveis do que os caprichos divinos.
Quanto ao Sr.
Herriot e à clientela dos Annales?
Os comunistas e os
cristãos dir-me-ão que o seu optimismo é de maior alcance, que é superior a
tudo o resto, e que Deus ou a história, segundo os casos, são os desfechos
satisfatórios da dialéctica que empregam. Tenho o mesmo raciocínio a fazer.
Se o cristianismo é
pessimista quanto ao homem, é optmista quanto à condição humana. O marxista,
pessimista quanto à natureza humana, é optimista quanto à marcha da história (a
sua contradição!). Por mim, pessimista quanto à natureza humana, sou no entanto
optmista quanto ao homem.
Como não vêem eles
que jamais se lançou semelhante grito de confiança no homem? Creio no diálogo,
na sinceridade. Creio que são a via de uma revolução psicológica sem igual;
etc.
Os limites. A este
respeito, diria que há mistérios que convém enumerar e meditar. Nada mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário