Podemos não
concordar com as ideias políticas, e outras, de Marcelo Rebelo de Sousa, mas
sabemos que é um homem culto, um académico que gosta de livros, que gosta de
futebol.
Bem ao contrário
da múmia que ainda se passeia por Belém.
O editor José
Antunes Ribeiro, dono da Ulmeiro, a histórica livraria da Avenida do
Uruguai em Benfica, atravessa momentos difíceis e, ontem, o futuro Presidente
da República foi dar um abraço de solidariedade ao José Antunes Ribeiro.
A Ulmeiro,
em tempos de ditadura, também depois do 25 de Abril, sempre cumpriu uma missão
fundamental: publicar livros que outros editores, por medo-fosse-do-que-fosse, recusaram
colocar nas mãos dos leitores.
Assim de repente,
lembro-me de As Armas Estão Em Boas Mãos do Capitão Fernandes.
Como a situação financeira
da livraria há muito se arrasta, o aumento da renda criou maiores dificuldades,
o António Ribeiro, através do facebook, tem vindo a fazer leilão de
livros, dos cerca de 200.000 que estão pelas prateleiras, pacientemente
organizados por Lúcia, sua mulher.
Pela livraria também
se passeia o gato Salvador, terna companhia do Zé Ribeiro e da mulher.
À agência Lusa,
contou:
Sou de origem camponesa, não tenho muito esse feitio
de estender a mão. Não gosto, não está no meu caráter. Há pessoal que me tem
dito ‘fazemos isto e aquilo’. Eu jamais aceitaria qualquer coisa do estilo de
esmola. A única coisa que estamos disponíveis é para vender barato. Isso não me
importo, para ajudar a resolver o problema”, contou.
Um puto que nasceu numa aldeia onde não se lia, como
era o meu caso, numa casa onde não havia livros, com pais analfabetos, que
descobriu as bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian e uma professora
primária, que teve uma influência enorme, optando por vir para Lisboa para ser
livreiro-editor.
Às quintas-feiras
almoçava com o António Lobo Antunes, tal como conta o escritor, no 3º volume
das suas Crónicas, um pedacinho de história que há muito anda para ser
Postal ou Quotidianos:
E às quintas-feiras almoço nos Moinhos da Funcheira
com o Zé Ribeiro, o Zé Francisco, o Vitorino. Os Moinhos da Funcheira são o
subúrbio do subúrbio, depois da Venda Nova, da Brandoa, da Pontinha: toda a gente
acha feia e eu acho lindo.
Numa visita à Ulmeiro,
perguntei como iam os almoços.
Já quase não se realizam. O António está um chato
levado do diabo.
A Ulmeiro fica
no nº 13-A da Avenida do Uruguai, ex-libris do bairro de Benfica.
Estão por lá
livros importantíssimos, que já não se encontram em parte alguma, a preços que
são quase um escândalo de baixo custo.
Merece uma
visita.
Passar por lá
para ajudar a manter aquele espaço aberto.
É sempre tarde
quando se chora.
Quando as
livrarias fecham, os cinemas fecham, saltam as lágrimas de crocodilo.
E é sempre tarde,
quando se chora.
Legenda:
fotografia da Câmara Municipal de Lisboa
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