Vai um Presidente e, para mais, um ainda não em
funções resolver este magno problema: vão os portugueses continuar a ler livros
em papel? Não vai (o Presidente resolver) e vão (os portugueses continuar a ler
livros em papel). Dito isto, é bom saber que Marcelo Rebelo de Sousa, na tarde
de sábado, entrou numa livraria em agonia e comprou 300 livros. A livraria
chama-se Ulmeiro, fica em Benfica, e é daquelas onde os livros não se expõem,
procuram-se, ao acaso nas estantes, sobre as mesas e sobre o chão, talvez só
não sobre a cadeira onde pontifica o gato Santiago. A Ulmeiro teve uma
época, a minha geração sabe, e a Ulmeiro continua a ser mais um, entre mil e há
mil anos, lugar onde se encontram livros. Os livros de papel serão ainda por
muito tempo lidos e quando deixarem de o ser não será porque o Fahrenheit
451, a temperatura a que o papel arde, os levará mas porque serão lidos
em tablets e outros suportes. Entretanto, é importante que numa tarde
chuvosa e a 10º Celsius, um Presidente entre numa livraria e encomende livros.
Um dia, há muitos anos, José Ribeiro, o dono da Ulmeiro, disse-me o seu sonho:
editar em português Paradiso, do cubano José Lezama Lima. Continua não
editado. De Paradiso, Julio Cortázar escreveu: "Devemos lê-lo
entregando-nos ao que chamamos destino, assim como entramos no avião sem dar
conta da cor dos olhos ou do estado do fígado do piloto." Boa viagem,
espero que a tenhamos todos com Marcelo.
Ferreira
Fernandes no Diário de Notícias de ontem.
Legenda:
fotografia da Câmara Municipal de Lisboa
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