Publicamos os
últimos excertos das Folhas Políticas que, de um modo ou de outro, se
entendeu terem a ver com a unidade que se formou à esquerda, para apoiar o
Governo do Partido Socialista.
O texto foi
publicado no semanário Extra no dia 12 de Janeiro de 1978:
Se ainda alguma coisa espero no meio deste descalabro,
desta paródia dum CDS anti-socialista a participar (subtilmente, Soares dixit) num governo comprometido com uma
Constituição como a nossa, se alguma coisa ainda espero é que os socialistas militantes
se sintam ofendidos pelos factos e reajam como quem ofendido foi e está a ser.
E não é, como se pensaria, na mira de uma legítima maioria de esquerda, que
faço este voto: sabemos que a maioria de esquerda foi possível, não desde 25 de
Abril de 1976, mas desde 25 de Abril de 1974, e contudo, não se fez: não é
agora que lhe poderíamos dar a vida que nunca teve. Se peço aos militantes socialistas
que reajam, é apenas, e tanto, para que não morram as esperanças de socialismo
em Portugal. Não dou ordens em casa alheia, porque as não admito na minha.
Limito-me a dizer ao meu vizinho: «Tens o telhado a acir. Olha que morremos
todos.» Só isto e nada mais.
(…)
Dir-se-á que detesto o Partido Socialista. Puro
engano. Detesto-o tão pouco, que se não fosse comunista seria socialista (E
isto, que pode parecer uma simples frase, um mero efeito verbal, exprime
rigorosamente, na alternativa lógica que comporta, o absurdo da divisão
existente entre os dois partidos, como tal.) O que eu detesto é a política de
nenhuma verdade que a direcção do PS tem vindo a praticar sistematicamente, é o
descrédito que o PS está a fazer cair sobre a política e sobre a democracia:
não dignifica a política quem a transformou no rapa, tira, põe e deixa de
interesses que o país nada sabe, não serve a democracia quem utiliza a palavra
para iludir a instituição que ela é e os trabalhadores a quem deveria servir.
O povo português está calado. Apagou-se o entusiasmo,
o gosto de agir, a criatividade múltipla, que em 1974b e 1975 se manifestaram.
Chegaram os portugueses a gostar de si próprios, e essa foi a maior conquista
de Abril. E agora? Agora vivemos na Feira da Ladra, comprando e vendendo trapos
em segunda mão, enquanto uma voz conhecida, toda voltada para a direita, faz
negócios de ministérios: «E quem comprar dois, leva três!» Boa venda, Sr. Mário
Soares.
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