Tempo houve em
que a chegada do correio era o ponto alto de qualquer aldeia, em qualquer parte
do mundo, a grande hora.
Da importância
da chegada do carteiro fala este poema de Carlos Drummomd de Andrade.
Tirei-o de uma
colecção, de periodicidade quinzenal, editada em Portugal em 1980, que dava
pelo nome de Literatura Comentada.
A grande hora da chegada
do Correio.
Ninguém te escreve, mas que importa?
Correio é belo de chegar.
Surge no alto da ladeira
a mula portadora de malas,
trazendo o mundo inteiro no jornal.
O Agente do Correio está a postos
com os filhos funcionários a seu lado.
É família postal há muitos anos
consagrada a esse ofício religioso.
As malas borradas de lama
com registrados e impressos
que a chuva penetrante amoleceu
abrem-se perante os destinatários
como flores de lona
vindas de muito longe.
Cada família ou firma tem sua caixa aberta
onde se deposita a correspondência
mas bom é recebê-la fresquinha das mãos
Ninguém te escreve, mas que importa?
Correio é belo de chegar.
Surge no alto da ladeira
a mula portadora de malas,
trazendo o mundo inteiro no jornal.
O Agente do Correio está a postos
com os filhos funcionários a seu lado.
É família postal há muitos anos
consagrada a esse ofício religioso.
As malas borradas de lama
com registrados e impressos
que a chuva penetrante amoleceu
abrem-se perante os destinatários
como flores de lona
vindas de muito longe.
Cada família ou firma tem sua caixa aberta
onde se deposita a correspondência
mas bom é recebê-la fresquinha das mãos
de Sô Fernando, que negaceia,
brinca de sonegar a carta urgente:
-- Hoje não tem nada pra você.
-- Mas eu vi, eu vi na sua mão.
-- Engano seu. Quer um conselho?
Vai apanhar tiziu, que está voando
brinca de sonegar a carta urgente:
-- Hoje não tem nada pra você.
-- Mas eu vi, eu vi na sua mão.
-- Engano seu. Quer um conselho?
Vai apanhar tiziu, que está voando
lá fora.
Ver abrir a mala é coisa prima.
Traz as revistas de sábado
com três dias de viagem morro acima
Ver abrir a mala é coisa prima.
Traz as revistas de sábado
com três dias de viagem morro acima
abaixo acima, e o cheiro liso do papel
invadindo gravuras: Duque dança
as barbas de Irineu bolem na brisa
invadindo gravuras: Duque dança
as barbas de Irineu bolem na brisa
do Senado, e na
Rússia
o czar Nicolau tem o olhar vago
de quem vai ser fuzilado e ainda não sabe.
Tudo chega na hora
de quem vai ser fuzilado e ainda não sabe.
Tudo chega na hora
do Correio. a
mula é mensageira
do Fato, e sabe
antes de nós toda a terrestre
aventura. Mal
comeu
sua cota de
milho, já prossegue
rumo do Itambé,
levando o mundo.
Legenda: pintura
de William Albanese
Sem comentários:
Enviar um comentário