segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

À VOLTA DOS EDITORES


Volto aos editores.

Mais concretamente a Rogério Mendes de Moura.

Quando morreu no dia 23 de Novembro de 2008, Rogério Mendes de Moura era o decano dos editores portugueses.

Em 1953, sem qualquer experiência no ramo, funda a editora Livros Horizonte que dirige durante mais de meio século.

Era um editor que fazia questão de ler de fio a pavio tudo o que editava.

Tendo feiro parte da Universidade Popular de Bento Jesus Caraça, do MUD Juvenil, da candidatura de Humberto Delgado, teve problemas com a Censura e a PIDE.

Mas nunca se deixou intimidar pelas visitas que a PIDE fazia às instalações da editora, tão pouco se inibia com a actuação da censura, publicando sempre os livros que julgava interessantes.
 Mas muitos projectos esbarraram nos serviços da censura.

Tendo publicado um livro sobre o parto sem dor, recebeu notificação da censura dizendo que ele estava errado porque a mulher foi feita para ter dor no parto.

E não permitiram uma segunda edição do livro.

Mas medo foi palavra fora do contexto de vida de Rogério Moura.

Em 1962 funda, com Viriato Camilo, a Editora Prelo que terá uma importante projecção cultural, publicando novos autores que se manifestavam contra o regime de Salazar e que outras editoras, com medo de represálias, se recusavam a publicar.

Em 1964 foi eleito, juntamente com António Alçada Baptista e Augusto Petrony, para a Direcção do Grémio dos Editores.

A direcção não foi homologada pelo Ministro das Corporações com o fundamento de os eleitos serem adversários do regime político, desde católicos progressistas a membros do Partido Comunista.

Outra das suas paixões foi o cinema, tendo sido um empenhado entusiasta do cine-clubismo e é de sua responsabilidade a edição de A História do Cinema de Georges Sadoul.

Em 1969 adquire a Editorial Confluência, fundada em 1945 e edita os maiores dicionários da Língua Portuguesa – o "Morais", o "Etimológico", o "Onomástico".

Voltarei um destes dias, para contar uma história sobre o Dicionário de Morais, que faz parte da biblioteca cá da casa.

Em 2003, foi condecorado pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.

Em 2006, a União dos Editores Portugueses atribuiu-lhe o Prémio Carreira - Fahrenheit 451.  

Na brochura que assinalou os 50 anos de actividade da Livros Horizonte, o seu irmão, Mário Moura, também editor, escreveu:

Rogério Moura é um editor-artífice, talvez o único entre nós. Trabalha o livro como o ourives o ouro e o lapidador o diamante. Por outro lado, o tilintar ou não da caixa registadora não o comove.

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