Volto aos
editores.
Mais
concretamente a Rogério Mendes de Moura.
Quando morreu no
dia 23 de Novembro de 2008, Rogério Mendes de Moura era o decano dos editores
portugueses.
Em 1953, sem
qualquer experiência no ramo, funda a editora Livros Horizonte que
dirige durante mais de meio século.
Era um editor
que fazia questão de ler de fio a pavio tudo o que editava.
Tendo feiro
parte da Universidade Popular de Bento Jesus Caraça, do MUD Juvenil, da
candidatura de Humberto Delgado, teve problemas com a Censura e a PIDE.
Mas nunca se
deixou intimidar pelas visitas que a PIDE fazia às instalações da editora, tão
pouco se inibia com a actuação da censura, publicando sempre os livros que
julgava interessantes.
Mas muitos projectos esbarraram nos serviços
da censura.
Tendo publicado
um livro sobre o parto sem dor, recebeu notificação da censura dizendo que ele
estava errado porque a mulher foi feita para ter dor no parto.
E não permitiram
uma segunda edição do livro.
Mas medo foi
palavra fora do contexto de vida de Rogério Moura.
Em 1962 funda,
com Viriato Camilo, a Editora Prelo que terá uma importante projecção cultural,
publicando novos autores que se manifestavam contra o regime de Salazar e que
outras editoras, com medo de represálias, se recusavam a publicar.
Em 1964 foi eleito, juntamente com António Alçada Baptista e Augusto Petrony,
para a Direcção do Grémio dos Editores.
A direcção não
foi homologada pelo Ministro das Corporações com o fundamento de os eleitos
serem adversários do regime político, desde católicos progressistas a membros
do Partido Comunista.
Outra das suas
paixões foi o cinema, tendo sido um empenhado entusiasta do cine-clubismo e é de
sua responsabilidade a edição de A História do Cinema de Georges Sadoul.
Em 1969 adquire
a Editorial Confluência, fundada em 1945 e edita os maiores dicionários da
Língua Portuguesa – o "Morais", o "Etimológico", o
"Onomástico".
Voltarei um
destes dias, para contar uma história sobre o Dicionário de Morais, que faz
parte da biblioteca cá da casa.
Em 2003, foi
condecorado pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Em 2006, a União
dos Editores Portugueses atribuiu-lhe o Prémio Carreira - Fahrenheit 451.
Na brochura que
assinalou os 50 anos de actividade da Livros Horizonte, o seu irmão,
Mário Moura, também editor, escreveu:
Rogério Moura é um editor-artífice, talvez o único
entre nós. Trabalha o livro como o ourives o ouro e o lapidador o diamante. Por
outro lado, o tilintar ou não da caixa registadora não o comove.
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