HÁ HISTORIADORES
que designam o Setembro de 1974 como tendo sido um Setembro Negro.
O 28 de Setembro
foi uma tentativa pífia de conspiração da extrema-direita, apoiada por Spínola,
tendo como pano de fundo uma manifestação daquilo que o general designou como
«maioria silenciosa» e constitui um dos principais marcos do processo
revolucionário.
Em Julho,
Spínola já tinha dito: «As maiorias silenciosas têm de sair do seu comodismo
ou do seu temor e de se pronunciarem abertamente».
O PARTIDO
LIBERAL, no dia 13, redige um comunicado apelando para que as pessoas
começassem «a organizar a sua vida para aderirem à Grande Manifestação, e
apoiar firmemente Sua Excelência na execução do Programa do Movimento das
Forças armadas entendido de boa-fé, como via para a democracia personalista,
pluralista e livre».
MARCADA a data
da manifestação da «maioria silenciosa» para o dia 28.
DURANTE A
MADRUGADA do dia 18 são afixados os cartazes.
ESTAVA PREVISTO
O ALUGUER DE CAMIONETAS para transportar os manifestantes, aluguer sinalizado
antecipadamente com dinheiro emprestado pelo Banco Espírito Santo.
NO DIA 20, num
comício na Amadora, Álvaro Cunhal denuncia: «Se a reacção aguça os dentes e se
prepara para morder, é necessário partir-lhes antes que morda»!
NA TRADICIONAL
CORRIDA DE TOUROS, na Praça do Campo Pequeno, de apoio à Liga dos Combatentes,
é feito o ensaio geral da manifestação.
Gratuitamente
foram distribuídos bilhetes no valor de 300 contos. Spínola marca presença,
acompanhado por Vasco Gonçalves, que é apupado enquanto Spínola é
delirantemente aplaudido. A cada passe tauromáquico a populaça gritava:
«Portugal! Ultramar Ultramar!».
O cavaleiro João
Zoio apareceria, no meio da arena, ostentando o cartaz da manifestação da «maioria
silenciosa», enquanto pela instalação sonora era feita uma convocatória para a
manifestação.
NO DIA 27 o
Governo Provisório manifesta a Spínola a sua discordância sobre a manifestação
e este emite um comunicado agradecendo a intenção de apoio da «maioria
silenciosa» mas declarando que neste momento a manifestação não seria
convenienteº
NA MADRUGADA do
dia 28 populares montam barricadas em diversos pontos do país para evitar
qualquer avanço de forças reacionárias. Organizaram piquetes, revistaram
automóveis na procura de armas.
Cristóvão Aguiar
escreve no seu Relação de Bordo: « … mas quem pode, em dias tão agitados
como estes, ficar em casa?»
ANTÓNIO SPÍNOLA
convoca o Conselho de Estado para o dia 30, renuncia ao mandato presidencial e
os capitalistas portugueses vêem esfumar-se uma oportunidade de recuperar
privilégios perdidos, transferem os seus capitais para o estrangeiro e, muitos,
abandonam o país.
Costa Gomes é o
novo Presidente da República.
ARTUR PORTELA
Filho e o final de uma das suas Fundas:
«O general
Spínola mobilizou a maioria silenciosa.
O MFA mobilizou
o País.
Foi um opção.
Que o general
Spínola cometeu o erro de fazer.
Porque a maioria
não é silenciosa.
Porque o MFA é o
País.»
Legenda: as
imagens dos cartazes foram retiradas de Portugal Século XX de Joaquim Vieira,
Bertrand Editora, Lisboa, Novembro de 2007.
Fontes: Recortes
de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro
de 1978, Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário
Cardoso, Edição dos Autores, Lisboa, Maio de 1976, Portugal Hoje, edição da
Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho,
Editora Arcádia, Lisboa.
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