terça-feira, 17 de setembro de 2019

O DESEJAR SER JORNALISTA


Assim foi nascendo em mim a paixão pela escrita. E comecei a enviar textos para os suplementos juvenis do Diário de Lisboa, dirigido pelo Mário Castrim e do República. Alguns foram mesmo publicados, quase todos sob pseudónimo, por influência – imagine-se a presunção! – dos heterónimos de Fernando Pessoa. A certa altura, fui ao República entregar um texto, e quem me recebeu foi o Pedro Foyos. Disse-me «venha daí comigo, que estou com pressa» e eu fui atrás dele até às oficinas. Nunca antes tinha estado numa tipografia e fiquei fascinado com aquilo. Era uma tipografia tradicional, com as suas linotypes, a rotativa barulhenta… Ainda guardo, na minha memória olfactiva, o cheiro intenso a tinta que impregnava o ar. Depois, voltámos à redacção e, espreitando lá para dentro, vislumbrei velhas secretárias de madeira, pejadas de jornais. Ouvia-se o matraquear de uma máquina de escrever. Foram momentos importantes, porque, talvez tenha sido então que, pela primeira vez na minha vida desejei ser jornalista.

Depoimento de Daniel Ricardo em Memórias Vivas do Jornalismo

Legenda: fotograma do filme Deadline de Richard Brooks com Humphrey Bogart

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