Assim foi nascendo
em mim a paixão pela escrita. E comecei a enviar textos para os suplementos
juvenis do Diário de Lisboa, dirigido pelo Mário Castrim e do República. Alguns
foram mesmo publicados, quase todos sob pseudónimo, por influência – imagine-se
a presunção! – dos heterónimos de Fernando Pessoa. A certa altura, fui ao República
entregar um texto, e quem me recebeu foi o Pedro Foyos. Disse-me «venha daí
comigo, que estou com pressa» e eu fui atrás dele até às oficinas. Nunca antes
tinha estado numa tipografia e fiquei fascinado com aquilo. Era uma tipografia
tradicional, com as suas linotypes, a rotativa barulhenta… Ainda guardo, na
minha memória olfactiva, o cheiro intenso a tinta que impregnava o ar. Depois,
voltámos à redacção e, espreitando lá para dentro, vislumbrei velhas
secretárias de madeira, pejadas de jornais. Ouvia-se o matraquear de uma
máquina de escrever. Foram momentos importantes, porque, talvez tenha sido
então que, pela primeira vez na minha vida desejei ser jornalista.
Depoimento de
Daniel Ricardo em Memórias Vivas do Jornalismo
Legenda: fotograma
do filme Deadline de
Richard Brooks com Humphrey Bogart
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