quinta-feira, 19 de setembro de 2019

TUDO ESTÃO A TIRAR ÀS BEIRAS


Ir de Lisboa à Beira (a Baixa) por via-férrea era outrora uma viagem deslumbrante: vale do Tejo, Constança, Portas do Ródão, Castelo de Almourol, paisagens desfrutadas de comboio, em compartimentos de patine e afago.
Ir de Lisboa à Beira Baixa por via-férrea, hoje, tornou-se penoso e, para quem parte da Gare do Oriente, tenebroso, a estação a revelar-se um desarvorado ataque à saúde de quem, sobretudo no Inverno, a utiliza.
Carrossel de frio, de chuva, de correntes de ar, de correntes de vento, revela, na sua gongórica  arquitectura inumana, total desprezo pela dignidade dos que a utilizam.
Não há por certo construção pública entre nós tão geradora de desabrigos e incómodos como a dita gare, cujos responsáveis (da sua aprovação e negócio) deviam ser questionados.
Ir de Lisboa à Beira Baixa por via--férrea fez-se deslocação espinoteante em composições a fingirem de modernas, sem conforto, sem insonorização, sem climatização, sem bar (apenas uma ínfima máquina de cafés e chocolates), sem charme nem identidade – comboios de pindéricas linhas suburbanas, não (como foram no passado) de aprazíveis linhas nacionais.
Como foi possível fazer tal desconsideração às gentes de Castelo Branco, Alpedrinha, Fundão, Covilhã? Zonas de vultos como, entre outros, António Ramalho Eanes, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço, Robles Monteiro, Maria Lalande, Cargaleiro, António Paulouro, Vasco Lourenço, António Guterres, José Sócrates.
Tudo estão a tirar às Beiras: jovens, transportes, escolas, correios, freguesias, memórias, tribunais, hospitais, jornais – jornais que acabam de revelar terem as auto-estradas da região perdido 40 por cento de tráfego e a CP 47 milhões (em quatro anos) de passageiros. Admiram-se?

Fernando DaCosta

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