Numa das crónicas
que, semanalmente, publica no Expresso,
José Tolentino Mendonça começa assim:
«Em Portugal, que eu saiba, o melhor lugar para ouvir as cigarras é a
poesia de Eugénio de Andrade. Ao menos para mim representa o sítio onde
verdadeiramente as escutei pela primeira vez.»
O verão, por exemplo como
se conhece?
Um poema do Eugénio:
Conhecias o verão pelo cheiro,
o silêncio antiquíssimo
do muro, o furor das cigarras,
inventavas a luz acidulada
a prumo, a sombra breve
onde o rapazito adormecera,
o brilho das espáduas.
E o que te cega, o sol da pele.
o silêncio antiquíssimo
do muro, o furor das cigarras,
inventavas a luz acidulada
a prumo, a sombra breve
onde o rapazito adormecera,
o brilho das espáduas.
E o que te cega, o sol da pele.
Mais Eugénio:
Vê como o verão
subitamente
se faz água no teu peito,
e a noite se faz barco,
e minha mão marinheiro.
Ou assim:
No verão morre-se
tão devagar à sombra dos ulmeiros!
Para dizer ainda
que, como cantam os brasileiros Milton Nascimento e Simone:
a cigarra anuncia o verão.
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