terça-feira, 8 de setembro de 2020

OLHAR AS CAPAS


Inéditos

Antoine de Saint-Exupéry
Prefácio: Alban Cerisier e Delphine Lacroix
Tradução: Margarida Vale de Gato
Capa: Maria Manuel Lacerda
Casa das Letras, Lisboa, Novembro de 2009

Ao fim do dia fui ver o meu avião. E sei aquilo que se pede a um avião ou a um navio. Sei quais as matérias profundas que se desejaria reanimar dentro de nós. Esta carne, este coração, oferecemo-los a outros sóis para os amadurecerem. Como se fôssemos sempre um campo cheio de sementes a fazer germinar. Desde a infância que fugimos dessa velhice que não passa de uma conversão.
Eu rinha uma companheira. Ia às vezes, antigamente encontrar-me com ela ao fim do dia, e à beira do lume, conversávamos. E era uma viagem. Ah, a minha bela amizade! Não precisávamos de falara das Índias nem da China. Havia, porém uma tal densidade na melodia simples daquele disco de gramofone, no sabor e no gosto do Porto! E se um amigo ou uma amiga se nos juntassem, era uma coisa de que já tínhamos falado e, na sala, essa pessoa daria passos admiráveis, cheios de sentido, trazendo mil tesouros. Graças a ela, íamos instruir-nos. Viajar é, em primeiro lugar, aprender uma língua, as regras do jogo.

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