quarta-feira, 23 de setembro de 2020

OLHAR AS CAPAS


 Fruta da Época

Jorge Fallorca

Capa: Paulo da Costa Domingues

Frenesi, Lisboa, Maio de 2001

 

Aprendia a caminhar devagar porque o calçado também

se gasta, e além disso não tinha pressa nenhuma.

Está tudo à mão, só é preciso saber chegar-lhe.

Não?

Digo eu, não sei:

se  vai à vela, remos ou motor, mas que já não largou o porto é certo

«Senta aí, homem.»

«Sento porque eu quero. O corpo é meu»

Era sempre assim,

        começavam

Foram a Sines pelo caminho velho.

Assomaram ao campo que foi de aviação, e torpes lá che-

garam  a Sines.

Ele, tretas & tretas doutros escaldões.

Ele visitou a mana que habita o largo e volto-me já.

Foram:

       o miúdo ao patinhas

       ela às louças

       ele com os olhos lambendo as paredes, dono das cores.

Depois, voltaram ao porto e foram à maré.

Completos:

        galritos

        caniço

        o peixe doutro nome como isco

        cacilhos nos beiços que se apagam cedo.

Desceram:

       pedra riscada, juliana (fora) a prima da abrótea, mais

uns caramujos de enteter.

Burriés?

Sim.

Mas não tem som.

Só as gralhas do porto:

         escreve-se na areia o que o papel nunca diz, depois

vem o que esquece tudo e nunca soube de nada.

Vento também há, menos.

Cheira.

Pega-se-nos cheio de linhas, telegráfico.

Espécie de renda coando a intimidade das janelas.

Vento:

Cada um a sua, e quantas vezes salpicadas de estrelas,

latindo para as canas.

Disputam-nas:

        berreiros, gamanços, canadas, porrões, copos, pois, e

mais copos por uma cana.

Sendo vidrada, melhor.

Atestado de água boa – sabia-lhe os sítios – foi-se a estes

montes sem dizer:

         andou, andou, andar-se até à beirinha de uma pedra

a olhar pró pessegueiro.

Ham!, é uma forma de dizer, sabe-se lá se não era mas é

a ilha o que estava a ver?

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