Mas quando temos nove anos, é difícil esperar. Dei um pontapé na base
da cerca com uma das galochas. Impaciente e irritada. Soltei um suspiro.
Desprendi os dedos da grade. Nessa altura, o meu pai olhou para mim, meio
exasperado, meio divertido, e explicou-me uma coisa. Explicou-me o que era a paciência. Disse que era extremamente importante
nunca me esquecer do seguinte: quando queríamos muito ver uma coisa, por vezes,
tínhamos de ficar imóveis, de permanecer no mesmo sítio, de nos lembrar do
quanto desejávamos vê-la e de ser pacientes. «Quando estou a trabalhar, a tirar
fotografias para o jornal», disse ele, «por vezes tenho de ficar sentado no
carro durante horas para conseguir a fotografia que quero. Não me posso
levantar para beber uma chávena de chá nem sequer para ir à casa de banho.
Tenho de ser paciente. Se queres ver aves de rapina, também tens de ser
paciente.» Falou num tom grave e sério e não irritado; estava a comunicar uma
Verdade de adulto, mas eu fiz que sim com a cabeça, amuada e a olhar para o
chão. Aquilo parecia-me um sermão, não um conselho, e não percebia aonde ele
queria chegar.
Helen Macdonald em A de Açor
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