ODEON - 064
82356
Lado 1
Oração de Mãe Menininha – Peguei um “Ita” no Norte – Marina – Rosa Morena – O
Que É Que A Baiana Tem – Promessa de Pescador
Lado 2
Maracangalha – Saudade da Bahia – Só Louco – Dora – Vestido de Bolero – Não Tem
Solução
Quando era miúdo, a telefonia estava aberta de manhã à noite.
Era uma «Pilot».
Curiosamente, em O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago
diz-nos que Ricardo Reis, considerando que em casa, o «silêncio é
insuportável» pretende adquirir uma telefonia e nos anúncios que consulta
lá está a marca «Pilot».
«Diga Pilot ou Pailot, o que importa é o som que de lá sai.», diziam os
publicitários daqueles tempos. Ainda mais: «Pilot: quando comprar prefira o melhor.»
Como raio a música não havia de lhe entrar pelos sentidos?
Mais tarde, o pai comprou um «pick-up».
Os discos eram de 78 rpm e a pena que ele tem que se tivessem partido – outros
foram fanados!
Particularmente lembra-se das músicas brasileiras: Luiz Gonzaga, o Rei do
Baião, a cantar «Asa Branca», «O Sanfoneiro Só Tocava Isso», uma canção
tocada e retocada, muitas mais e… Dorival Caymmi.
Dessas músicas haveria, mais tarde, comprar LPs que lhe trouxeram esses sons da
infância e adolescência.
Caetano Veloso tem uma feliz expressão quando menciona que, naquele pedaço
abaixo do Equador, todos são filhos de Caymmi.
Reparem no naipe de canções que fazem parte deste «besto of» Dorival Caymmi
São todas canções que lhe ficaram agarradas à pele, como sarna.
Eu vou prá Maracangalha, eu vou, vou de liforma branco, de chapéu de palha, eu
vou, Marina, morena, você se pintou, você faça tudo, mas faça um favor,
não pinte esse rosto que eu gosto e que é só meu, Ai,que saudade eu tenho
da Bahia, ai se eu escutasse o que mamãe dizia, - allô, allô Carmen Miranda! -
e esse extraordinário «Vestido de Bolero»:
Um casaco bordô
Um vestido de veludo
Pra você usar
Um vestido de bolero
Lero, lero, lero
Já mandei comprar
Se o casaco for vermelho
Todo mundo vai usar
Saia verde, azul e branco
Todo mundo vai usar
Apesar dessa mistura
Todo mundo vai gostar
É que debaixo do bolero
Lero, lero, lero
Tem você yayá
Apenas por uma questão de curiosidade, este LP de Dorival Caymmi custou
295 escudos, qualquer coisa, ao câmbio de hoje, como 1 euro e quarenta e cinco
cêntimos.
Cabe também dizer que a canção Maracangalha, de Dorival Caymmi,
foi gravada em 1956 pela Odeon. Fez tanto sucesso que acabou por inspirar o
álbum Eu vou pra Maracangalha, lançado no ano seguinte.
Stella Caymmi, neta de Dorival Caymmi, no livro Dorival Caymmi: o
Mar e o Tempo, conta que Caymmi sempre convidava o seu amigo de infância
Zezinho a visitá-lo no Rio de Janeiro. A resposta era invariavelmente a mesma: Eu
vou pra Maracangalha, porque por lá o Zézinho tinha Anália uma sua
amante.
Dessas aventuras extraconjugais do amigo de infância, Caymmi fez a canção.
Caymmi morreu sem conhecer Maracangalha, uma vilória de São Sebastião
do Passé, município brasileiro da Região Metropolitana de Salvador na
Bahia, mas em sua homenagem, a vila construiu a Praça Dorival Caymmi em formato
de violão.
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