Um Amigo Para o Inverno
José Carlos Barros
Capa: Rui Garrido
Casa das Letras,
Lisboa, Junho de 2013
A camioneta corre por estradas sinuosas como se o levasse a um lugar
distante que lhe pertencesse. Porque todos temos um lugar que julgamos pertencer-nos.
E, no entanto, somos nós que pertencemos aos lugares: às suas ruas ou casas,
nascentes ou árvores, largos, tanques, muros, sombras dos muros. É verdade que
uma paisagem é quase sempre o resultado do que fizemos dela: do modo como
desviámos ou represámos águas, arroteámos florestas, cortámos pedra e erguemos
paredes. Mas é a força dos lugares (mesmo depois do primeiro olhar de um homem
sobre as encostas e os vales, mesmo depois da primeira mão modeladora, mesmo
quando do que eram ficou um irreconhecível retrato) o que prevalece e se impõe
sobre a obstinação e a vontade, o esforço e a audácia de procurar afeiçoar a um
corpo o que vem de mais longe do que a mão e a ideia de construir uma casa e um
terraço virado aos dias de Verão.
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