segunda-feira, 27 de junho de 2022

PIANO BAR

                             a Tom Waits

 é dos bares com piano      estamos mo porto

deuses depois das duas horas      com vinho

sangue e versos e sinos e um videotape

em vez de teatro com cerveja e programas

o músico com asas quer fá bulas e cigarros

erguem-se aos beijos e aos abraços      por baixo

ah os pássaros apenas estes somos nós

 

um blue de brancos      uns trocos de sangria

um cubo de pedra com gaivotas de metal

sobre a fonte romana na praça do século XVIII

aprende-se música comenta de longe o pianista

as palavras entrecortadas à faca nas suas teclas

o amigo fabulosos e cheio de virtudes exige

mais ruas estreitas e mais longas noites

cruel…… faz os seus cigarros      fuma-os      ó fogo

de isqueiros e morte com tédio e gelos

 

bebem assim tantos os homens de tanta sede

a actriz despede-se      todos se encontram

sobre as mesas entre os corpos copos e garrafas

amadeo de souza cardoso ou modigliani

reservo o álcool para os olhos mortos comigo

 

cravo de horto      a frente tão maciça      força

quantas bandeiras se enovelam por aqui

sangrenta a mão abre      quatro uísques para

esta mesa      a salvação é o menos rápido

eis o pintor da mesa do canto      as chamas

a açucena das pequenas leituras e dos cinemas

havia de morrer logo após a meia-noite

 

arde a carne      a gordura acesa      a pele estala

e estes sapatos de cinza pelo chão correm

reconheço que nunca nos vimos no porto

desaperta a gravata     enforca-se com a gravata


José Viale Moutinho em Piano Bar

1 comentário:

Seve disse...

Tom Waits ainda continua a ser para mim um livro completamente fechado.