Naquele Novembro de 2008, em que João Rendeiro solicitou ao Banco de
Portugal um empréstimo de 750 milhões com garantia do Estado, para equilibrar o
Banco Privado Português, nessa noite, sorridente foi à televisão apresentar o
seu livro Testemunho de Um Banqueiro: A História de Quem Venceu os Mercados,
com prefácio de João Cravinho - «Esta é a história do banqueiro, filho de
um casal proprietários de uma sapataria em Campo de Ourique, que do nada chegou
ao topo no mundo das Finanças, com negócios em Portugal, Espanha, Brasil e
África»
João Rendeiro é um dos investidores mais ousados e respeitados no mercado
financeiro português.»
Durante os tempos, andou a gerir fortunas de poderosos, ricos,
celebridades várias e as poupanças de uma série de desgraçados que, na mira de
dinheiro fácil, se meteram em caminhos que nunca deviam percorrer.
Os ricos que se lixem, mas aquela gente de pé-de-meia com uns dinheiros
guardados para quando aparecer um qualquer João Rendeiro a vender-lhes paraísos,
são hoje um grupo de lesados que passam dificuldades várias, uns não aguentaram
o revés e suicidaram-se, outros arrastam-se, espalhando a sua indignação à
frente das autoridades do país.
A 13 de Maio, numa prisão em Durban, João Rendeiro apareceu enforcado.
O antigo presidente do BPP estava detido na África do Sul desde 11 de Dezembro
de 2021 a aguardar extradição, após três meses de fuga à justiça portuguesa
para não cumprir pena em Portugal.
«Nunca mais
volto a Portugal», terá dito a um jornalista.
O corpo já chegou a Lisboa. A família exigiu nova autópsia porque
admite que existe uma história mal contada.
Atrás de João Rendeiro, descontados os do pé-de-meia, está uma série de
gente, porque tóxica, tornada flor que não se deve cheirar.
No Público de 14 de Maio, está estampada uma fotografia de gente
sorridente: João Rendeiro, Raul Capela, Francisco Pinto Balsemão que, em 1996,
foram a Belém apresentar o negócio Banco Privado Português.
O mesmo Francisco Pinto Balsemão que, ainda segundo o Público, nas
suas Memórias, arrasa Rendeiro e descreve-o como «uma pessoa
completamente insensível e persistentemente egocêntrico, que não o ajuda a
distinguir o bem do mal e permite-lhe, julga ele, ficar em permanência ancorado
no total egoísmo», Mais Sentencia: «No meu caso, como no de muitos outros,
vários em situações pessoais de autêntica sobrevivência, nunca a palavra
Ximbalau foi aplicada com tanta propriedade».
Falando de outro banqueiro, Ricardo Salgado, o Ministério Público pediu,
em recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa, um agravamento da condenação
do ex-presidente do BES, de seis para 10 anos de prisão, no processo separado
da Operação Marquês.
Acontece, porém, que a enorme corte de advogados de Ricardo Salgado, enviou
para o Tribunal da Relação de Lisboa um recurso com 792-páginas-792, recordando
o diagnóstico de Doença de Alzheimer do arguido e lembrando que a prisão do
banqueiro irá acelerar a sua morte.
Não coloco quaisquer outros comentários a estes pormenores de vida e
morte dos dois banqueiros.
Que me lembre, sempre tive ideias formadas acerca de banqueiros e
capitalistas. São eles, juntamente com meliantes, os responsáveis por quase
todas as desgraças que afligem os humildes e os pobres deste mundo.
Acrescento apenas que, há umas semanas, estive a reler o policial de E.
C. Bentley, O Último Caso de Trente, e pude voltar a ler:
«Quando o cérebro privilegiado de Sigsbee Manderson foi trespassado por uma bala, disparado por mão desconhecida, o mundo nada perdeu que valesse uma lágrima sequer; pode mesmo dizer-se que aprendeu uma lição: a da vaidade irremediável que consiste em acumular riquezas como aquele homem acumulara, sem fazer um amigo que o chorasse ao morrer, sem praticar uma só ação que honrasse a sua memória.»
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