quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

OS TRAUMATIZADOS DA GUERRA COLONIAL


Guerra colonial.

Quantos mortos? Quantos feridos? Quantos estropiados?

Quantos, os que vivem com distúrbios, com dificuldades de adaptação social, familiar e laboral?

Estes, são os números difíceis de contabilizar porque uma grande parte dos casos nem sequer são conhecidos.

Apenas se sabem que existem.

Cenas da guerra colonial e grupo de ex-combatentes durante uma terapia de grupo. Vinte anos depois há portugueses que não conseguem esquecer os episódios mais violentos por que passaram durante a guerra colonial. A sua vida ficou alterada, têm dificuldades em integrar-se na sociedade, sofrem de pesadelos e insónias e são perseguidos ou por sentimentos de culpa ou pela recordação dos anos de violência. As feridas de guerra não cicatrizaram, pensam que estão «sozinhos no mundo». Mas descobriram que há outros nas suas circunstâncias que compreendem os seus problemas e lamentam as atrocidades cometidas.

Expresso, 1 de Julho de 1989

Voltamos aos números.

Num artigo publicado em 1992 na Revista de Psicologia Militar, da autoria de um grupo de psiquiatras (Afonso de Albuquerque, António Fernandes, Edite Saraiva e Fani Lopes), calculava-se em 140 mil o número de portugueses portadores de distúrbios psicológicos crónicos resultantes da participação na guerra colonial. Destes, 40 mil têm perturbações mais profundas designadas por “pós-stress traumático”.

Quer que lhe fale da guerra? Então oiça. Na minha primeira operação, entrámos e saímos de uma aldeia a fazer fogo sem avisar. Pensávamos que tínhamos matado toda a gente. Quando voltámos atrás, encontrámos uma velhota, pequenina e frágil, encostada à porta de casa. Não sei como conseguiu sobreviver. Entrámos a matar e eles nem sequer estavam aramados para se defenderem. Foi uma acção de puro banditismo que me marcou bastante. A guerra foi isto.

Depoimento de um ex-militar publicado Diário de Notícias, s/d


Recorte publicado no Público de 12 de Fevereiro de 1999.

(Continua)

SARAMAGUEANDO


Os últimos números conhecidos, revelavam que, nas cheias em Moçambique este ano, já morreram 38 pessoas, 150 mil encontram-se desalojadas, desconhecendo-se o número de pessoas desparecidas.

As cheias em Moçambique são sempre trágicas, mas as do ano 2000 foram uma catástrofe: elevadíssimos prejuízos e a morte de 700 pessoas.

O escritor Mia Couto, num texto, a que chamou Perdida a Colheita de Esperança, publicado no Público de 29 de Fevereiro de 2000, descrevia os fatídicos dias:

Olhando os lugares onde estive há menos de um mês, agora completamente submersos, me vem um sentimento que já não é só de tristeza. Um enorme cansaço. Uma desistência da alma, dentro de mim. A mágoa profunda de ver perdida a colheita de esperança que os moçambicanos semearam depois da guerra. Esta gente – aos milhares – que espera em cima do último telhado está desenhando outros deuses: os helicópteros que descem dos céus para os salvar. Vejo as imagens na Televisão e não tenho outra defesa contra a lágrima. Como uma erva já sem raiz, a mãe com seu filho nas costas vai subindo nos céus. Aos poucos é engolida pela barriga da máquina voadora. Lá em baixo, tudo é rio, torrente e lama. A morte servindo-se dos mesmos materiais da vida.
Sempre lutei para que a minha terra dispensasse a humilhação de ter que pedir. Mais triste que pedir, porém, é ter mesmo que pedir. A dimensão desta tragédia ultrapassa o quanto Moçambique pode responder por si mesmo. Desta feita, eu também peço. Não por mim, mas pela gente que necessita recomeçar do nada que lhes restou.

José Saramago respondeu, deste modo, ao apelo.

Meu caro Mia Couto.

As palavras sobram. Ou todas seriam insuficientes para denunciar o vergonhoso comportamento da mal chamada comunidade internacional. Não faltam helicópteros às guerras, nem aviões, nem comida, nem dinheiro. Havendo gente para morrer nelas, às guerras nunca faltou nada. Mas o auxílio a Moçambique vai a conta-gotas, como se esses desastres e calamidades fossem coisas doutro planeta. Ouço dizer que a África do Sul exige contrapartidas pelos helicópteros que por aí andam a salvar vidas. Prefiro pensar que não é verdade, que só por pura e humana generosidade foram mandados. Quanto a Portugal, não sei, vivo longe. Gostaria de imaginar que os meus compatriotas, depois de tanto terem gritado e chorado por Timor, andam agora, de norte a Sul, a recolher auxílios para Moçambique. Alguns andarão, não o duvido, mas a colectividade nacional, no seu conjunto, nunca foi muito de abrir os cordões à bolsa. Prefere extrair de lá o lencinho para secar a lágrima fácil em que se especializou.
Enfim, diz-me o número de uma conta bancária de aí, para onde eu possa transferir algum dinheiro, Confio em ti para que não se perca pelo caminho.

Um grande e fraternal abraço,

José Saramago, Lanzarote.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

UM ESTRANHO E LONGO SILÊNCIO


Após um estranho e longo silencio, em que o que aparecia relativo às malfeitorias bancárias se resumia ao BPN, BPP e em menor grau ao BCP, a imprensa começa timidamente a falar dos banqueiros de topo, aqueles que fazem e desfazem governos e que estão sempre ao lado do poder, de Salazar a Passos Coelho, passando pelos socialistas. Não me refiro ao que é ilegal, porque disso deve cuidar a justiça, mas dos "esquecimentos" que levam milhões lá para fora sem serem declarados ao fisco, para depois a memória melhorar, ou ser melhorada e o dinheiro regressar cá dentro com um pequeno imposto para pagar de bónus.

Mas há um silêncio muito esquisito, se não fosse verdadeiramente pouco esquisito, no modo como as coisas estão: estando o governo envolvido numa luta épica para que os portugueses paguem impostos, nunca condenou estes "esquecimentos"? Insisto, condenar do ponto de vista da moral cívica, já que a lei é suposto ter outro andamento e outras consequências. É verdade que mesmo com a lei em curso, o governo às vezes fala à vontade, como a nossa ministra da justiça fez recentemente, dizendo que "a partir de agora deixou de haver impunidade". Mas era para o PS de Paris e não para a banca. Aqui é só silêncios e gentilezas. Para a banca faltosa, não há mesmo nenhuma palavrinha zangada, vindo do mesmo ministro e primeiro-ministro e dos vários secretários de estado que incham o peito contra as cabeleireiras, os mecânicos de automóveis, e os donos de café e restaurantes? Aí sim, há palavras duras e mostras de robusta firmeza.

Não deviam os governantes dizer alguma coisa? Dever, deviam. Dizer, não dizem.

José Pacheco Pereira no Abrupto.

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


A exibidora Socorama Castello-Lopes vai encerrar até quinta-feira 49 das suas 106 salas de cinema, levando ao despedimento de 75 trabalhadores, disse na terça-feira à agência Lusa um dos responsáveis da empresa. Desses 49 ecrãs, todos integrados em centros comerciais da Sonae Sierra, oito representam a inexistência de exibição cinematográfica no arquipélago dos Açores (quatro salas) e no distrito de Viana do Castelo (quatro salas), ficando também Covilhã, Loures, São João da Madeira, Guia e Seixal sem cinemas (32 salas).

DEIXAR O EGO NO BENGALEIRO...


Penso que aprendi, desde muito pequeno e muito pobre, a refrear o orgulho e a dominá-lo, como um luxo a que só se podem dar os bem-nascidos, ou os protegidos posteriores da roda da fortuna. O ego inflamado não é sinal de inteligência. E é, de resto, uma das dificuldades com que nos defrontamos no teatro. Brecht dizia aos actores que, ao entrarem na sala de ensaios, deviam deixar os egos pendurados, com os chapéus e os abafos, no bengaleiro.

Joaquim Benite

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

MARCADORES DE LIVROS

SANTA IMPUNIDADE!...


Segundo o semanário Sol, O FMI desconfia que os ricos estão a fugir ao fisco.

O rendimento declarado nos dois escalões mais altos do IRS caíu significativamente e nas profissões liberais a descida atingiu 24%.

Para além do FMI, alguém mais se espanta com estas fugas ao fisco?

Quando é público e notório que o banqueiro Ricardo Salgado se esqueceu de declarar alguns milhões de euros ao fisco, que mais há para dizer?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

À LUPA


Temos jovens a sair de Portugal e bandidos a mais em Portugal. Os bandidos passam por gente responsável e respeitável. São importantes. Servem-se a si mesmos.

Clara Ferreira Alves na Revista do Expresso de 26 de Janeiro de 2013.

TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE


Capa do jornal do Teatro Municipal Joaquim Benite que contém a programação até Junho e a que chamaram Um Percurso de Afectos, desenvolvida pelo jornalista Rui Lagartinho.

Catarina Neves aborda Timão de Atenas de Shakespeare, a última encenção de Joaquim Benite, em cena até ao dia 3 de Fevereiro.

Depoimentos Augusto M. Seabra, Filomena Oliveira, Miguel Real, José Mário Silva, Jorge Silva Melo e Manuel Gusmão evocando o jornalista e homem de teatro que Joaquim Benite foi

Rodrigo Francisco, novo director do Teatro, escreve o editorial: Substituir o insubstituível:

OLHAR AS CAPAS


Exílio

Alberto de Lacerda
Prefácio de António Ramos Rosa
Colecção Poetas de Hoje nº 13
Portugália Editora, Lisboa Dezembro de 1963


REGRESSO

Não vim à procura de nada
Nem de saudades que não tenho
Nem de carga do tempo perdido
Nem de conflitos sobrenaturais
Do tempo e do espaço

Amei desde criança
Certas coisas que não choro
Fui a pureza deslumbrada que não volta jamais
O vidro sem ranhura que o sol atravessa
A pureza
Que me deixou feridas imortais

Vim para ver
Para ver de novo
Para contemplar sem perguntas
Não vim à procura de nada
Não me perguntem por nada
Um rio não se interroga
O vento não se arrepende.

domingo, 27 de janeiro de 2013

OLHARES


Apesar de grande parte do comércio da baixa lisboeta tenha vindo a sofrer grandes transformações, ainda podemos encontrar lojas que, ao longo dos anos, me habituei a ver de portas abertas e dentro do mesmo ramo.
É o caso da Sapataria Presidente na Rua 1º de Dezembro.


Na mesma rua, na porta mesmo ao lado, temos a Sapataria A Deusa.

POSTAIS SEM SELO


«Ouvir uma língua estrangeira. Novas ruas. Novas praças. Outra multidão… Um postal ilustrado que se escreve à família. Com a Torre Eiffel. Com o Tamisa. Com a Catedral de Colónia. E mais tarde, sentado, entre os amigos: “Quando, nesse ano, visitei Paris, as ruas estavam cheias de neve e, os franceses, apinhados no Metro, aqueciam-se com as francesas.»

Autoria desconhecida

Legenda: fotografia de Elaine

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI


Já por aqui falei do gosto especial que o meu pai tinha pela 3ª Sinfonia de Beethoven.

Vou lendo alguns livros que, por isto ou por aquilo, ficaram para trás, relendo outros, vou encontrando coisas novas e outras que a primeira leitura não deixou qualquer registo.

É o caso das conversas que Álvaro Cunhal manteve com Catarina Pires – Cinco Conversas com Álvaro Cunhal, publicadas pela editora Campo das Letras, Porto Abril de 1999.

Se a morte não o tivesse levado antes, o meu pai teria ficado muito feliz ao saber da opinião de Álvaro Cunhal, sobre a 3ª Sinfonia, mais concretamente sobre o 2º andamento, A Marcha Fúnebre.

Nós ouvimos marchas fúnebres, protocolares, que nos levam a imaginar as pessoas a perfilarem-se, hirtas, prestando homenagem ao morto. Ouvimos outras que nos sugerem o choro pelos mortos, marchas fúnebres que provocam uma reacção de tristeza e sofrimento. Mas a marcha fúnebre da Sinfonia nº 3 de Beethoven, sendo solene, não é protocolar e, ao mesmo tempo que chora os mortos, encoraja os vivos. Em Portugal podíamos dizer: morreram uns, mas a luta continua. É o sentido dessa marcha fúnebre. Não é só a beleza do som musical. Ela traz-nos qualquer coisa mais que excede essa beleza, vai além dessa beleza e é um elemento da beleza e do valor artístico da obra.

Ocorre-me a Jornada, poema de José Gomes Ferreira para música de Fernando Lopes Graça:

Porque nenhum de nós anda sozinho e até os mortos vão ao nosso lado.


sábado, 26 de janeiro de 2013

SARAMAGUEANDO


Uma escultura de uma oliveira com quase cinco metros vai ser instalada junto à casa onde o escritor José Saramago viveu, em Tías, Lanzarote, em homenagem ao Nobel da Literatura português.

A escultura em aço vai ser instalada na rotunda que dá acesso ao complexo onde fica a casa e a biblioteca do escritor, em Tías, no dia 18 de Março.

A escultura, da autoria de José Perdomo a partir de um desenho de Esther Viña, ambos de Lanzarote, representa uma oliveira feita com as letras iniciais de José Saramago: o tronco é a letra "j" e os ramos são todos em forma da letra "s".


Legenda: imagem da Fundação Saramago.

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Se fosse realmente forçado a responder à questão “o que é o cinema?” responderia, talvez, que é o jogo de ténis do “Blow-Up”

João Mário Grilo

Legenda: fotograma de Blow-Up de Michelangelo Antonioni, 1966

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:

- E tapaste a fotografia?

Respondeu:

Se tapei a fotografia? Não. Isso era para os camaradas que tivessem uma forte resistência íntima de vendo a fotografia, porem a cruz. E podia perfeitamente olhar de frente a fotografia, não tinha nenhuma dificuldade de estar a ver a ver a fotografia e pensar: Dr. Mário Soares, vou pôr aqui a cruz no quadradinho, não é tanto pela política que você defende, que é muito má a meu ver, mas para evitarmos que venha o fascismo para Portugal. Mário Soares, que ganhou aas eleições, sabe que deve aos comunistas a vitória, que foi uma vitória antifascista.

Álvaro Cunhal em Cinco Conversas com Álvaro Cunhal de Catarina Pires, Campo das Letras, Porto Abril de 1999.

Nota do editor: este episódio refere-se às eleições presidenciais de 1986. Álvaro Cunhal, em 2 de Fevereiro de 1986, convoca um Congresso Extraordinário do PCP para apelar ao voto em Mário Soares com vista a derrotar Freitas do Amaral.

Legenda: Álvaro Cunhal e Mário Soares no 1º de Maio de 1974.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

HÁ-DE CHEGAR!


O Luís lembrava hoje que faltam onze mses para que volte a ser Natal.
Havemos de lá chegar.
Tenho saudades de olhar as luzinhas da árvore de Natal e do presépio.
E ainda estão por aqui, chocolates que foram gentis, e doces, ofertas de Natal .

A TRAGÉDIA DOS PRECÁRIOS


Vai ser hoje votada na Assembleia da República a Lei Contra a Precariedade.

Pela segunda vez na sua história, o Parlamento vai votar uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos.

A Lei Contra a Precaridade foi proposta por mais de 40 mil cidadãos.

Na sequência da entrega da proposta no parlamento, os movimentos promotores solicitaram reuniões a todos os grupos parlamentares: PCP, BE e Verdes demonstraram o apoio à iniciativa; PSD e CDS afirmaram-se sintonizados com a importância do tema, mas não indicaram qual o seu posicionamento na votação; o Partido Socialista não se demonstrou disponível para receber os movimentos.

O desemprego real atinge já os 20,25%, 1 milhão e 200 mil pessoas. Nos últimos 20 meses há em média 16.207 novos desempregados por mês, com particular gravidade para os jovens, em que a taxa real é de 39%, números apenas superados, no contexto europeu, por Grécia e Espanha. São já as estatísticas oficiais que confirmam: o conjunto de pessoas desempregadas e precárias constitui, desde o 3º trimestre de 2012, a maioria da população activa em Portugal.

A Lei Contra a Precariedade dirige-se directamente à vida de mais de 2 milhões e 900 mil pessoas, que constituem o somatório de precários e desempregados.

OLHAR AS CAPAS


Os Negócios do Senhor Júlio César

Bertolt Brecht
Tradução: António Ramos Rosa
Publicações Europa-América, Lisboa Setembro de 1962

A fuga de capitais torna cada vez maior amplitude.
A taxa do dinheiro subiu de 6 para 10 por cento. Então sempre é verdade que temem Catilina na City! Pompónio Celer (Curtumes) exprimiu, na verdade, uma curiosa opinião: «Talvez a City provoque a saída dos capitais, para que haja medo de Catilina.»
Discutimos uma hora este ponto de vista.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

OS CROMOS DO BOTECO

SARAMAGUEANDO


José Saramago não gostava de bandeiras.

Na longa conversa que manteve com João Céu e Silva, lamentava o espectáculo de os portugueses, por causa do Euro 2004, seguindo uma ideia provinciana de Scolari, terem colocado bandeiras nacionais nas janelas e engalanado as ruas – e o patriotismo do portuguesinho não é assim tanto. Era profundamente ridículo essa quantidade de bandeiras. É aquilo a que eu chamo fogos de palha, que ardem com muita violência, queimam-se, esgotam-se e reduzem-se a cinzas em pouco.

Referia mesmo que, no seu livro Intermitências da Morte, ridicularizara o facto.

Lembremos, então, o que vem na pág. 26 de As Intermitências da Morte:

Um dia, uma senhora em estado de viúva recente, não encontrando outra maneira de manifestar a nova felicidade que lhe inundava o ser, e se bem que com a ligeira dor de saber que, não morrendo ela, nunca mais voltaria a ver o pranteado defunto, lembrou-se de pendurar para a rua, na sacada florida da sua casa de jantar, a bandeira nacional. Foi o que se costuma chamar meu dito, meu feito. Em menos de quarenta e oito horas o embandeiramento alastrou a todo o país, as cores e os símbolos da bandeira tomaram conta da paisagem, com maior visibilidade nas cidades pela evidente razão de 3estarem mais beneficiadas de varandas e janelas que o campo. Era impossível resistir a um tal fervor patriótico, sobretudo porque, vindas não se sabia donde, haviam começado a difundir-se certas declarações inquietantes, para não dizer francamente ameaçadoras, como fosse,, por exemplo, Quem não puder a imortal bandeira da pátria à janela da sal casa, não merece estar vivo, Aqueles que não andam com a bandeira nacional bem à vista é porque se venderam à morte, Junte-se a nós, seja patriota, compre uma bandeira, Compre outra, Compre mais outra, Abaixo os inimigos da vida, o que lhes vale a eles é já não haver morte. As rua eram um autêntico arraial de insígnias desfraldadas, batidas pelo vento, se este soprava, ou, quando não, um ventilador eléctrico colocado a jeito


fazia-lhe as vezes, e se a potência do aparelho não era bastante para que o estandarte virilmente drapejasse, obrigando-o a dar aqueles estalos de chicote que tanto exaltam os espíritos marciais, ao menos fazia com que ondulassem honrosamente as cores da pátria. Alguma raras pessoas, à boca pequena, murmuravam que aquilo era um exagero, um despropósito, que mais tarde ou mis cedo não haveria outro remédio que retirar aquele bandeiral todo, e quanto mais cedo melhor o fizermos, melhor, porque da mesma maneira que demasiado açúcar no pudim dá cabo do paladar e prejudica o processo digestivo, também o normal e mais do que respeito pelos emblemas patrióticos acabará por converter-se em chacota se permitirmos que descambe em autênticos atentados contra o pudor, como os exibicionistas de gabardina de execrada memória. Além disso, diziam, as bandeiras estão aí para celebrar o facto de que a morte deixou de matar, então de duas uma, os as retiramos antes de que com a fartura comecemos a embirrar com os símbolos da pátria, ou vamos levar o resto da vida, isto é, a eternidade,, sim, dizemos bem, a eternidade, a mudá-los de cada vez que os apodreça a chuva, que o vento os esfarrape ou que o sol lhes coma o colorido. Eram pouquíssimas as pessoas que tinham a coragem de pôr assim, publicamente, o dedo na ferida, e um pobre homem houve que teve de pagar a antipatriótico desabafo com uma tareia que, se não lhe acabou ali mesmo com a triste vida, foi só porque a morte havia deixado de operar neste país desde o princípio do ano.

NÃO, NÃO, NÃO SUBSCREVO,...


Não, não, não subscrevo, não assino
que a pouco e pouco tudo volte ao de antes,
como se golpes, contra-golpes, intentonas
(ou inventonas – armadilhas postas
da esquerda prá direita ou desta para aquela)
não fossem mais que preparar caminho
a parlamentos e governos que
irão secretamente pôr ramos de cravos
e não de rosas fatimosas mas de cravos
na tumba do profeta em Santa Comba,
enquanto pra salvar-se a inconomia
os empresários (ai que lindo termo,
com tudo o que de teatro nele soa)
irão voltar testas de ferro do
capitalismo que se usou de Portugal
para mão-de-obra barata dentro ou fora.
Tiveram todos culpa no chegar-se a isto:
infantilmente doentes de esquerdismo
e como sempre lendo nas cartilhas
que escritas fedem doutras realidades,
incompetentes competiram em
forçar revoluções, tomar poderes e tudo
numa ânsia de cadeiras, microfones,
a terra do vizinho, a casa dos ausentes,
e em moer do povo a paciência e os olhos
num exibir-se de redondas mesas
em televisas barbas de faláeia imensa.
E todos eram povo e em nome del’ falavam,
ou escreviam intragáveis prosas
em que o calão barato e as ideias caras
se misturavam sem clareza alguma
(no fim das contas estilo Estado Novo
apenas traduzido num calão de insulto
ao gosto e à inteligência dos ouvintes-povo).
Prendeu-se gente a todos os pretextos,
conforme o vento, a raiva ou a denúncia,
ou simplesmente (ó manes de outro tempo)
o abocanhar patriótico dos tachos.
Paralisou-se a vida do pais no engano
de que os trabalhadores não devem trabalhar
senão em agitar-se em demandar salários
a que tinham direito mas sem que
houvesse produção com que pagá-los.
Até que um dia, à beira de uma guerra
civil (palavra cómica pois que
do lume os militares seriam quem tirava
para os civis a castanhinha assada),
tudo sumiu num aborto caricato
em que quase sem sangue ou risco de infecção
parteiras clandestinas apararam
no balde da cozinha um feto inexistente:
traindo-se uns aos outros ninguém tinha
(ó machos da porrada e do cacete)
realmente posto o membro na barriga
da pátria em perna aberta e lá deixado
semente que pegasse (o tempo todo
haviam-se exibido eufóricos de nus,
às Áfricas e às Europas de Oeste e Leste).
A isto se chegou. Foi criminoso?
Nem sequer isso, ou mais do que isso um guião
do filme que as direitas desejavam,
em que como num jogo de xadrez a esquerda
iria dando passo a passo as peças todas.
É tarde e não adianta que se diga ainda
(como antes já se disse) que o povo resistiu
a ser iluminado, esclarecido, e feito
a enfiar contente a roupa já talhada.
Se muita gente reagiu violenta
(com as direitas assoprando as brasas)
é porque as lutas intestinas (termo
extremamente adequado ao caso)
dos esquerdismos competindo o permitiram.
Também não vale a pena que se lave
a roupa suja em público: já houve
suficiente lavar que todavia
(curioso ponto) nunca mostrou inteira
quanta camisa à Salazar ou cueca de Caetano
usada foi por tanto entusiasta,
devotamente adepto de continuar ao sol
(há conversões honestas, sim, ai quantos santos
não foram antes grandes pecadores).
E que fazer agora? Choro e lágrimas?
Meter avestruzmente a cabeça na areia?
Pactuar na supremíssima conversa
de conciliar a casa lusitana,
com todos aos beijinhos e aos abraços?
Ir ao jantar de gala em que o Caetano,
o Spínola, o Vasco, o OteIo e os outros,
hão-de tocar seus copos de champanhe?
Ir já fazendo a mala para exílios?
Ou preparar uma bagagem mínima
para voltar a ser-se clandestino usando
a técnica do mártir (tão trágica porque
permite a demissão de agir-se à luz do mundo,
e de intervir directamente em tudo)?
Mas como é clandestina tanta gente
que toda a gente sabe quem já seja?
Só há uma saída: a confissão
(honesta ou calculada) de que erraram todos,
e o esforço de mostrar ao povo (que
mais assustaram que educaram sempre)
quão tudo perde se vos perde a vós.
Revolução havia que fazer.
Conquistas há que não pode deixar-se
que se dissolvam no ar tecnocrata
do oportunismo à espreita de eleições.
Pode bem ser que a esquerda ainda as ganhe,
ou pode ser que as perca. Em qualquer caso,
que ao povo seja dito de uma vez
como nas suas mãos o seu destino está
e não no das sereias bem cantantes
(desde a mais alta antiguidade é conhecido
que essas senhoras são reaccionárias,
com profissão de atrair ao naufrágio
o navegante intrépido). Que a esquerda
nem grite, que está rouca, nem invente
as serenatas para que não tem jeito.
Mas firme avance, e reate os laços rotos
entre ela mesma e o povo (que não é
aqueles milhares de fiéis que se transportam
de camioneta de um lugar pró outro).
Democracia é isso: uma arte do diálogo
mesmo entre surdos. Socialismo à força
em que a democracia se realiza.
Há muito socialismo: a gente sabe,
e quem mais goste de uns que dos outros.
É tarde já para tratar do caso: agora
importa uma só coisa – defender
uma revolução que ainda não houve,
como as conquistas que chegou a haver
(mas ajustando-as francamente à lei
de uma equidade justa, rechaçando
o quanto de loucuras se incitaram
em nome de um poder que ninguém tinha).
E vamos ao que importa: refazer
um Portugal possível em que o povo
realmente mande sem que o só manejem,
e sem que a escravidão volte à socapa
entre a delícia de pagar uma hipoteca
da casa nunca nossa e o prazer
de ter um frigorifico e automóveis dois.
Ah, povo, povo, quanto te enganaram
sonhando os sonhos que desaprenderas!
E quanto te assustaram uns e outros,
com esses sonhos e com o medo deles!
E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
guardai no bolso imagens de outras Franças,
ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
ou de Estados Unidos que não crêem
que latinada hispânica mereça
mais que caudilhos com contas na Suíça.
Tomai nas vossas mãos o Portugal que tendes
tão dividido entre si mesmo. Adiante.
Com tacto e com fineza. E com esperança.
E com um perdão que há que pedir ao povo.
E vós, ó militares, para o quartel
(sem que, no entanto, vos deixeis purgar
ao ponto de não serdes o que deveis ser:
garantes de uma ordem democrática
em que a direita não consiga nunca
ditar uma ordem sem democracia).
E tu, canção-mensagem, vai e diz
o que disseste a quem quiser ouvir-te.
E se os puristas da poesia te acusarem
de seres discursiva e não galante
em graças de invenção e de linguagem,
manda-os àquela parte. Não é tempo
para tratar de poéticas agora.


Santa Bárbara, Fevereiro 1976
(aniversário de uma tentativa heróica de conter uma noite que duraria décadas)

Jorge de Sena em 40 Anos de Servidão, Moaraes Editores, Lisboa Setembro de 1982


Legenda: fotografia de Gérard Castello Lopes

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

NOITES BRANCAS


Não sei o que são os mercados, essa coisa de que, a totro e direito, ouvimos falar.

Acontece, porém, que quando vejo os banqueiros do país rejubilarem com o regresso de Portugal aos mercados, dizendo, entre grandes sorrisos que o que hoje nos aconteceu, é uma maravilha e o resultado dessa maravilha, uma autêntica jogada de mestre de Gaspar, fico com a certeza que a nossa vida vai ficar muitissimo mais negra.

Simplesmente, porque o que o que é bom para os banqueiros e para os gaspares, não pode ser bom para o povo.

E não é necessário ter biblioteca, nem perceber de finanças.

De resto não foi necessário esperar muito tempo para que as gentes, que andam a lixar a vida dos portugueses, metessem o foguetório no saco.

O Fundo Monetário Internacional, actualizando o relatório das perspectivas económicas mundiais, indica que a região da moeda única vai ter este ano uma recessão de 0,2%, o que coloca uma enorme pressão negativa sobre a recessão desde já prevista para Portugal durante 2013.

MARCADORES DE LIVROS

O SUBTIL SALGADO


Este título encontra-se na 1ª página do Expresso de sábado e é uma chamada de atenção para a longa entrevista do banqueiro Ricardo Salgado, que é publicada no suplemento de Economia.

Contudo, no caderno principal do semanário, na sua habitual coluna, o jornalista Fernando Madrinha, escreve:


Não são necessários outros comentários.

Quanto à entrevista em si, pouco há a dizer, pois mais não é senão uma vã tentativa de salvar a face dos bancos, na crise profunda em que ajudaram a mergulhar o país.

Poderia falar-se da suspeita de crime de mercado em que José Maria Ricciardi, presidente do BES investimento e de Amílcar Morais Pires, administrador financeiro do BES, mas, são casos de polícia que seguem os habituais trâmites de investigação e que, como norma, deverão durar longos tempo, e Ricardo Salgado, face ao facto do BES, de novo, estar na mira da justiça, mostra-se tranquilo.

Quero apenas referir um pedacinho da entrevista do banqueiro Salgado.

O jornalista pergunta-lhe:

- Que personalidades marcaram o país nos últimos 40 anos?

O banqueiro responde:

- Não gostaria de referir políticos de destaque, não me cabe a mim fazer a história deste período, mas não poderemos deixar de referir Sá Carneiro, Mário Soares e Cavaco Silva.

Vinda de quem vem, a resposta, de modo algum surpreende, e apenas consegue deixar o traço do nível cultural do personagem que, dizem que é o homem mais poderoso de Portugal, ou até que é o dono disto tudo.

Ricardo Salgado consegue não citar o nome de Álvaro Cunhal.

Apenas destacar:

Pode ou não concordar-se com o perfil e as ideais de Cunhal, mas, de modo algum, se pode ser indiferente.

Isso apenas acontece a quem se coloca ao nível da sarjet ou que  da história apenas vê cifrões e gente de chapéu alto e charuto em riste.

No more!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DA MINHA GALERIA


Faz hoje cinco anos que morreu o actor Heath Ledger.
Conheci-o em O Segredo de Brobeback Mountain e entrou de imediato na minha galeria.
O actor foi encontrado morto no qaurto do seu apartamento de Nova Iorque.


Que se pode dizer perante esta brutalidade, que ceifou a vida a um promissor actor de cinema que começava a ser redescoberto e promedia uma carreira de sucesso?
Nada, absolutamente nada.
Ou rever os sesu filmes e deixar estas suas palavras:


QUOTIDIANOS


«Ela tem cara de rica», disse Minolta.
«Como é cara de rica?», perguntei.
«Uma mistura de arrogância com tédio.»
«Isso é um mísero clichê,»
«Só porque é clichê deixa de ser verdade?

Rubem Fonseca em Bufo & Spallanzani, Sextante Editora, Lisboa Fevereiro 2011

AQUELA DONDE NUNCA SE REGRESSA


Sentado perto da janela fechada, Beno sabia perfeitamente que regressara das muitas viagens que fizera para iniciar a última viagem possível, aquela donde nunca se regressa – a do esquecimento…
Dormitou, e dormitou sabendo que o corpo magro que transportara de um lado para o outro, sem descanso, fora sempre a sua última morada. E nele se habituara a viver, mal ou bem, e com ele rira e chorara. Com ele morreria, ao mesmo tempo.

Al Berto em Lunário, Assírio &Alvim, Lisboa Dezembro de 1999.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DO BAÚ DOS POSTAIS

TRAPALHADAS DO RELVAS...


O caso RTP continua um folhetim sem fim à vista.

Daniel Proença de Carvalho, antigo administrador da RTP, que um dia José Mensurado classificou como um maquiavel à moda do Minho, considerou que não será possível vender a estação pública de televisão a uma entidade da qual se desconheçam os verdadeiros titulares, como é o caso da Newshold.

Desconhecem-se os verdadeiros titulares?

Então o Relvas não tem andado a privar com a rapaziada, então não se sabe, se o negócio tiver pernas para andar, donde virá o money, money?

Que Proença desconheça é uma coisa, pretender que o Relvas e o governo desconheçam, é uma outra bem diferente.

O que Daniel Proença quer, sabe-se bem o que é, mas as coisas não lhe correram de feição, a ele ou ao cliente que representa.

Qualquer pauzinho não se ajustou bem na engrenagem…

A anedota serve para ilustrar, uma vez mais, as mixórdias do Relvas, do governo, de como um assunto, tão sério, como o caso da RTP, está a ser conduzido: simplesmente ao pontapé.

Noutra anda o ministro dos Assuntos Parlamentares metido e, também, relacionada com a comunicação social

Relvas, após a assinatura do contrato de prestação de serviço noticioso de interesse público entre o Estado e a Lusa, afirmou que a agência de notícias portuguesa, tem de ser mais ambiciosa e que é fundamental estabelecer novos projectos.
Novos projectos?

Mas como?

Negoceiam saídas de jornalistas com tarimba, pagam miseravelmente aos que por lá ficaram, quase nada pagam aos estagiários que, no fundo, são pau para toda a obra, mas a quem, acima de tudo, faltam experiência e cultura.

A todos se pede que sejam ambiciosos…

É nitidamente andar a gozar com o pagode!

Mas até quando?

QUOTIDIANOS


A corrupção alastra.

Uma corrupção generalizada, uma cadeia de favores sem fim, a cunha, a subserviência, políticos que se tornam engenheiros nos domingos de universidade fechada, doutores em cursos que não existem, um autarca vigarista que, de recurso em recurso, nunca mais bate com os costados na prisão, ministros que saem de governos para grandes empresas de sectores onde foram responsáveis, um banco privado que faliu, não por incompetência dos seus responsáveis mas simplesmente porque os seus responsáveis sabiam que estavam a cometer um crime financeiro, que ilicitamente encheram os bolsos dos amigalhaços, sabemos os nomes e que, agora, todos nós estamos a pagar.

No Brasil diz-se: Ou o país acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com o país.

Nem mais!

ELOGIO DA SOLIDÃO


Uma casa para estrear e descobrir
em quantas salas se acomoda a solidão.
Cozinhou o jantar e come atentamente
como todos quantos dividem a comida em silêncio:
o náufrago, o mendigo, o oleiro na lancheira.

Coze o seu barro, um jeito de partir o pão
que deve ao tempo uma lentidão coalhada.
O ruído do vizinho não o incomoda.
Nenhuma fala ou resíduo humano leveda
uma página ao acaso. Pode decidir beber mais vinho
ou inaugurar a leitura de outro livro.
Mesmo sair para beber café e mastigar o frio.

No pasto, a chuva rega a placidez do boi;
abana a cabeça, fumegam as narinas,
desenha-se num fundo de pinhal que o vento
castiga; na caruma molhada pressente-se
o rumor de um cão absorto na ilusão
do que procura. Coisas mínimas, irrisórias,
vão salvar o resto da noite de presumir felicidade.

Lá fora a cidade está cercada na convicção
das suas vidas perdoáveis, mercando
um alimento longamente dispensável
- a respiração em vitualhas e sarcasmos,
a pobreza irresignável e irresolúvel,
o cansaço de não estar só e não querer estar.

José Alberto de Oliveira


Legenda: pintura de Edward Hopper

domingo, 20 de janeiro de 2013

À LUPA


Corremos o risco de não ter jornais impressos tradicionais - jornais em papel - dentro de alguns meses em Portugal. Há problemas sérios com o sector gráfico, com as gráficas que produzem jornais e revistas.
Estamos num momento de grande revolução tecnológica, de grandes migrações, para as plataformas digitais, e transformações.

Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

POSTAIS SEM SELO


Não se pode pregar contra o capitalismo selvagem e ter por moral uma vida de luxos exuberantes que nos diferenciem do outro. Daí a frase do meu pai, que terá aprendido do seu avô Valentim: “O que nos define é a maneira como vivemos a vida e não como ganhamos a vida.”

Isabel Moreira

QUOTIDIANOS


Numa entrevista à Lusa, Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, considera que tem faltado mestria aos governantes para ir buscar o dinheiro aos mais ricos em benefício do bem comum e deixar de recorrer sempre aos pobres, que já não podem dar mais.

O Jornal de Notícias destaca, hoje, que s quase 600 cantinas sociais espalhadas pelo país estão a ficar sem capacidade de resposta face ao aumento de pedidos.

sábado, 19 de janeiro de 2013

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


Deixei de comprar o Expresso pouco depois do sr. Engenheiro José António Saraiva ter sido nomeado director.

Uma mera questão de higiene.

Volta e meia o meu vizinho Damião, deixa-mo à porta e passo um olhar pelas gordas.

Fiquei, então, a saber que o Expresso a partir de hoje, e durante mais duas semanas, oferece gratuitamente O Que a Censura Cortou, título de uma secção que o jornalista José Pedro Castanheira manteve, desde Janeiro de 2008, durante 68 semans, tantas quantas as edições do Expresso sujeitas ao execrável exame prévio.

Portanto, durante três semanas volto a comprar o Expresso.

Por uma questão de memória.

Durante quarenta e oito anos a Censura amordaçou todo um país.

Uma censura às imagens, às palavras, ao pensamento, levada a cabo por um bando de coronéis, imbecis e incultos, munidos de um lápis azul, respeitando ordens dos ditadores e muitas vezes, tantas, ultrapassando essas ordens e desatando a cortar a torto e a direito.

É bom não esquecer, principalmente nestes tempos que correm, em que uma série de políticos agarotados, pretendem fazer-nos crer que não tivemos um passado.

ADEUS REIS MAGOS



Jorge Listopad no JL, 9 a 22 de Janeiro de 2013

Legenda: Adoração dos Reis Magos pintura de Andrea Mantegna

CENTENÁRIO DE ÁLVARO CUNHAL


As comemorações do centenário de Álvaro Cunhal arrancam hoje, com uma cerimónia em Lisboa, prolongam-se durante um ano e incluem a realização de um congresso sobre o líder histórico comunista em Outubro.

A cerimónia de abertura das comemorações dos cem anos de Álvaro Cunhal, que nasceu a 10 de Novembro de 1913, decorrerá no auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, e contará com a presença do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Todas as iniciativas das comemorações do centenário podem ser vistas no blogue criado para essa efeito..

Um dia Sophia Mello Breyner Andresen perguntou a Álvaro Cunhal se a arte, mais do que a política, não estava mais apta a salvar os homens.

Talvez as duas, respondeu-lhe Cunhal.

Em Fevereiro de 2006, disse a jornalista Fernanda Mestrinho:

Cunhal fez História e fica na História. Os outros nem merecem uma nota de rodapé.

José Pacheco Pereira, que escreveu em três volumes, uma Biografia, não autorizada, de Álvaro Cunhal, disse, numa entrevista ao Público de 17 de Maio de 1999:

Não tenho qualquer espécie de afinidade política ou ideológica com Cunhal, e também nunca tive uma atitude referencial. Aliás, nunca poderia ter escrito esta biografia se tivesse a atitude reverencial da esquerda portuguesa. Exactamente porque tenho um grande desprendimento em relação ao PCP e a Cunhal, posso, com grande liberdade perceber a dimensão da personagem.


Legenda: fotografia de Álvaro Cunhal, na década de 30, durante os passeios de fragata no rio Tejo, que juntavam um vasto grupo de intelectual, e retirada de Álvaro Cunhal, Retrato Pessoal e Íntimo de Adelino Cunha, A Esfera dos Livros, Lisboa Novembro de 2010.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

À LUPA



É preciso acabar com a ideia de que o Governo está a levar o país à recessão.

Pedro Passos Coelho, esta semana, num comício em S. Miguel nos Açores.

NOITES BRANCAS


Uma noite de temporal desfeito.

Foi assim durante todo o dia e as previsões da meteorologia apontam que o mau tempo vai continuar.

Durante a manhã uma delegação do FMI esteve por aí a fazer a sexta avaliação do programa de ajustamento que nos impuseram, chegando à fácil conclusão que o governo ainda não nos espremeu o suficiente.

Não li a papelada com atenção, mas saltou-me à vista que a delegação, entre muitas e variadas coisas, entende que ainda existe margem para novo alargamento da base fiscal no IVA e que nas taxas a rever se incluem o vinho e a cultura.

Quando tenho medo, e eu tenho muito, se lhe virar as costas, ele não parte para lugar algum, pelo que é imperioso dele fala e enfrentá-lo.

Isto cheira a literatura barata, mas é assim mais fácil resolver o que nos causa esse medo.

 É necessário falar dele e enfrentá-lo, porque assim talvez seja mais fácil resolver o que nos causa esse medo.

Amanhã será um outro dia.

OS CROMOS DO BOTECO

POSTAIS SEM SELO


Quando alimentei os pobres chamaram-me santo, mas quando perguntei porque há gente pobre, chamaram-me comunista.

D. Helder da Camara