Não quero entrar nos detalhes da história da ascensão e
queda de Ricardo Salgado. Tem demasiado odor a suor e outras secreções para ser
um assunto sobre o qual alguém que preserve um sentido apolíneo da decência e
da beleza queira escrever. O problema é de outra natureza. Salgado, Oliveira e
Costa, Rendeiro, Dias Loureiro são as ovelhas negras de uma casta que domina a
Europa inteira: os banqueiros da UEM. Uma elite certificada pelo Tratado de
Maastricht e pelas regras de funcionamento da zona euro. Tal como os
aristocratas da Europa do absolutismo, também eles estão acima da lei geral.
Inimputáveis, manipulam os governos e fazem do sistema de justiça um
interminável jogo de paciência que termina, invariavelmente, em absolvição por
cansaço e prescrição. Foi a sua desmesura que transformou o sistema financeiro,
de importância vital para uma sociedade de mercado funcional, no palco para uma
tragédia de Shakespeare. Nem todos os membros desta elite se comportaram
abusivamente, mas a simples possibilidade de o abuso de poder passar sem
castigo, provocou o carrossel de especulação e a avalancha de crédito Norte-Sul
dos primeiros anos do euro. Foi sobretudo a ganância do sistema financeiro, e
não o despesismo dos Estados, que conduziu a Europa ao atual beco sem saída. A
mesma ganância conduziu à Grande Depressão de 1929. Nessa altura, sob liderança
dos EUA de F. D. Roosevelt, o financismo foi colocado no seu lugar por uma
firme regulação do negócio bancário, que garantiu a prosperidade económica
durante muitas décadas. Hoje, a União Europeia continua paralisada, sem a
necessária coordenação e firmeza políticas, indispensáveis para colocar o
sistema financeiro dentro dos limites da lei e da ordem.
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