sábado, 7 de junho de 2014

OS IDOS DE JUNHO DE 1974


1 a 7 de Junho

CAUSOU estranheza, alguma indignação o aparecimento do general Galvão de Melo na Televisão mostrando-se indignado por a revolução não estar a correr dentro dos parâmetros que a parte retrógrada do MFA pretendia e que nunca foi aceite pelos restantes sectores do MFA.
Galvão de Melo serviu-se do expediente de ler uma carta que um português lhe enviara e que poderia ter sido escrita por todos os portugueses autênticos.
Gato escondido com rabo de fora.
Mário Castrim titulou o seu Canal da Crítica: Muito mal, meu general.
Castrim também admitia que a impaciência não resolve nada, só pode agravar, mas a aparente desordem em que vivemos é preferível mil vezes à «ordem» em que vegetávamos: o nosso povo não está a criar o caos: está a libertar-se do caos que lhe deixou o fascismo.

O RECÉM-FORMADO Partido Liberal, reunido com os órgãos de informação, afirmou não ter «uma revivescência do velho liberalismo, pelo contrário o partido tem um marcado cunho social.»

MÁRIO Soares e Almeida Santos partem para Lusaca a fim de iniciarem conversações com a FRELIMO, representada por Samora Machel que afirmou aos jornalistas: «Não é a independência que vamos discutir com os portugueses. A independência é um direito nosso inalienável… só que a paz é indissociável da independência.»

FERNANDO Celso Ferreira presidente da Comissão Directiva do Sindicato dos Operários Texteis que fazia parte do Movimento Democrático do Porto e participou na acção das candidaturas Norton de Matos, Rui Luís Gomes e Humberto Delgado foi detido dado que se verificou a sua actividade de informador na ex-PIDE/DGS.

AS AUTORIDADES portuguesas das ilhas de Timor vão organizar um referendo em Março de 1975 para determinar o estatuto do território. Existem três partidos políticos: o  Partido da União Democrata, favorável à continuação da presença portuguesa; o Partido Social-Democrata, que reclama a independência total,  e o AITI, associação para a integração de Timos na Indonésia.

NUMA ENTREVISTA à agência TASS, Álvaro Cunhal afirma que «continua intacta a hegemonia dos monopólios em Portugal.»

AO DAR POSSE à Comissão Encarregada de elaborar o projecto da nova lei eleitoral o Primeiro-Ministro declarou que a nova lei eleitoral terá de assegurar a todos os portugueses, sem quaisquer distinções, o pleno exercício do direito ao voto.

O MOVIMENTO Democrático dos Artistas Plásticos divulga que no dia 10 de Junho promoverá no Mercado da Primavera um conjunto de iniciativas. O acontecimento dominante será a pintura colectiva duma tela com 24 por 5 dividida em 48 partes tantos quanto os anos de fascismo.

Os TRABALHADORES da Companhia Nacional de Navegação propõem a nacionalização da empresa.

EM MACIEIRA de Cambra, distrito de Aveiro, onde se encontrava a passar uns dias de férias, adoeceu gravemente o escritor Ferreira de Castro. Transportado para o Hospital de Santo António no Porto, apresenta hemiplegia esquerda de prognóstico muito reservado.

PARALISAÇÃO  total do trabalho na Docapesca. Pescadores de bacalhau entram em greve na Gronelândia e Terra Nova.

UM OLHAR sobre o livro Portugal Depois de Abril:.


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso, Edição dos Autores, Lisboa, Maio de 1976, Portugal Hoje, edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo,
A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

Sem comentários: