Tomás, por ele Mesmo
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e prefácio de Orlando Neves
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Saber Porquê, Lisboa s/d
Nenhum processo foi instaurado, após o 25 de Abril de
1974, contra o homem que, durante quase dezasseis anos ocupou o cargo do “mais
alto magistrado da Nação” (fórmula preferencial do fascismo para designar o
Chefe do Estado) e daí que o actual Presidente da República por razões, ao que
parece, “humanitárias”, lhe permita o regresso a Portugal, após a sua expulsão
do Continente na noite de 25 para 26 de Abril de 1974. Se, obviamente, espanta
qualquer português antifascista a decisão de permitir o regresso de Américo
Tomás (e não foi espantoso também que, tanto ele como Marcelo Caetano e outros,
comodamente tivessem sido instalados na Madeira e, depois, generosamente
enviados para o Brasil?!), o que realmente assombrará a História será o facto
de o regime democrático, pós 25 de Abril, jamais se ter lembrado de acusar A.
Tomás de algo que o fizesse comparecer na barra dos tribunais. Como se um homem
que, ao longo da sua carreira militar, e mais tarde, política, deu cobertura e
aval a todos os crimes contra a liberdade cometidos durante os consulados de
Salazar e Caetano, pudesse ser equiparado ao mais inocente ou inócuo dos cidadãos!
Como se A. Tomás não tivesse sido, organicamente, o mais responsável de todos
os fascistas que nos governaram! Como se a ele, pela qualidade do cargo que
desempenhou, não devesse ser assacada a responsabilidade de crimes comuns em
que avultará o assassínio de Humberto Delgado, o seu opositor nas urnas em
1958, que, pelo menos, permitiu ficasse sem investigação nem julgamento! Como
se A. Tomás não tivesse sido Comandante-em-Chefe de umas Forças Armadas em
guerra e, como tal, permitido ou ocultado os massacres da guerra colonial! Como
se A. Tomás não tivesse, em tudo isto, exercido o crime de “abuso de poder” que
uma Constituição, que ele permitiu fosse completamente desrespeitada, previa!
Como se A. Tomás não fosse o garante de um regime moralmente condenado por
todas as forças democráticas do mundo e, inclusivamente, pela ONU!
É evidente que muita matéria deveria haver – pensaria o cidadão comum – para que A. Tomás, a regressar a Portugal, o fizesse directamente para a prisão.
É evidente que muita matéria deveria haver – pensaria o cidadão comum – para que A. Tomás, a regressar a Portugal, o fizesse directamente para a prisão.
(Do Prefácio de Orlando Neves)
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