Tem sido um findar de Primavera completamente esfarrapado.
Chuva, vento, algum frio e faltam escassos dias para que chegue o Verão.
Não é de estranhar que gaivotas invadam o espaço em frente à janela, tal como
fazem em dias de Inverno.
Saberão porquê.
Esvoaçam, gritam, ficam paradas no telhado do armazém, que fica ao lado
do prédio.
Pretexto para me socorrer de Gaivota
cantada pela Amália, sem dúvida alguma, um belíssimo fado em que tudo está no
seu lugar: poema, música, voz.
Se uma gaivota viesse
Trazer-me o céu de Lisboa
No desenho que fizesse,
Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa,
Esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
Dos sete mares andarilho,
Fosse quem sabe o primeiro
A contar-me o que inventasse,
Se um olhar de novo brilho
No meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu,
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro,
Esse olhar que era só teu,
Amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
Morreria no meu peito,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração.
Poema: Alexandre O’Neill
Música: Alain Oulman
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