A Palavra é de Oiro
Augusto Abelaira
Livraria Bertrand,
Lisboa s/d
«Sem dúvida: muitas vezes, quando escrevo, sinto que escrever é um
assunto pessoal que só a mim me diz respeito, sinto que é comigo próprio que
estou a falar. Mas logo, até porque publico o que escrevi (porque publicarei
umas coisas e outras não?), me assaltam algumas dúvidas. E acabo por pensar que
escrever não será um monólogo (será pleonástico dizer a sós?), um desabafo em
frente do espelho, será sim um diálogo projectado para fora das quatro paredes
que me cercam (do café em que geralmente me encontro, para ser mais rigoroso);
que ao pegar numa caneta se anima em mim um desejo de comunicação, que baixar
essa caneta sobre o papel pressupõe, mesmo se de forma escondida ou nebulosa,
um tu a quem realmente me dirijo – alguém que talvez não exista (eu gostaria
que existisse, decerto), alguém que depois de ler aquelas páginas desejará
responder-me.»
(Do Posfácio, datado
de Novembro de 1972)
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