Luiz Pacheco no seu primeiro Texto Local, a que chamou Os Namorados, escreve:
«Dos jardins fantásticos da minha infância que eu nem tive infância
nasci assim já velho mas sou um bonacheirão incapaz de rancor aos meninos que
tiveram infância e jardins, trago um na lembrança que era um jardim muito
engraçado havia um coreto a música tocava aos domingos havia um urinol com
aquele velho maluco que fazia coisas aos rapazes e também lembro um jardim,
outro ou seria o mesmo que era um jardim muito engraçado com uma estantazinha
verde o tipo que emprestava livros à gente tinha uma farda preenchia-se um
papel com o nosso nome e morada era coisa séria.»
Ora esta inauguração, no bairro que Tabucchi “percorreu vezes sem
conta” e onde “sempre se sentiu bem”, como ali recordou a viúva do escritor,
Maria José de Lencastre, e onde, em nome do município, o presidente da Câmara
de Lisboa, Carlos Moedas, afirmou que “o grande escritor, o grande lisboeta, o
grande homem livre”, se tornava assim “parte da cidade” que foi a “sua segunda
casa”, ocorreu no início do ano em que se celebrarão os 80 anos do nascimento
de Tabucchi (em 24 de Setembro) e passados 11 anos da sua morte (em 25 de Março
de 2012. Na mesma Lisboa que adoptou como sua e onde viveu desde 1965 até ao
final da vida.»
«Meu caro professor Tabucchi
agora que você se encontra
entre as águas do aqueronte
e o vórtex furioso dos átomos
onde tudo está disperso
e onde tudo é criado de novo
em breve poderá voltar
aos jardins de Lisboa
como flor/ que floresce em Abril
ou como chuva nos lagos
e nas lagoas de Portugal
e quando eu estiver a passear
voltarei a ouvir a sua voz
percorrida pelo vento.»
Legenda: Jardim Constantino, em Lisboa, numa quarta-feira, que é dia de ali se relizar uma Feira Ocasional de Livros Usados.
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