Gosto de pessoas que não escondem as
suas fragilidades. Não precisam de usá-las na lapela do casaco, é claro, mas
que não as escondam se calharem em conversa. Fobias, egoísmos, incompetências,
doenças psiquiátricas, mendicidades, etc., são o melhor que temos para nos dar.
Porque o mais é falso ou não é particularmente nosso. O Pierce Brosnan e a Tyra
Banks não existem; a nouvelle
cuisine é uma cagada; o Fernando Mendes e o peixe frito são mesmo
muito bons. Sou muito melhor escritor do que o Hemingway. Quase toda a gente é
muito melhor escritor do que o Hemingway. Não percam tempo com o Hemingway se
tiverem uma bola, alguns amigos e um jardim onde jogarem. Não percam uma
oportunidade de suar. O suor é sempre bom, a menos que se sue por dinheiro.
Fumem. Fumem muito. Os dentes castanhos são melhores do que os brancos. Melhor
do que os dentes castanhos só não ter dentes nenhuns mas ter quem nos corte
maçãs e queijo da ilha aos bocados pequeninos. Que se foda o Hemingway.
Miguel Martins em Resumo: a poesia em 2011
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