sexta-feira, 17 de março de 2023

DA LITERATURA

Gosto de pessoas que não escondem as suas fragilidades. Não precisam de usá-las na lapela do casaco, é claro, mas que não as escondam se calharem em conversa. Fobias, egoísmos, incompetências, doenças psiquiátricas, mendicidades, etc., são o melhor que temos para nos dar. Porque o mais é falso ou não é particularmente nosso. O Pierce Brosnan e a Tyra Banks não existem; a nouvelle cuisine é uma cagada; o Fernando Mendes e o peixe frito são mesmo muito bons. Sou muito melhor escritor do que o Hemingway. Quase toda a gente é muito melhor escritor do que o Hemingway. Não percam tempo com o Hemingway se tiverem uma bola, alguns amigos e um jardim onde jogarem. Não percam uma oportunidade de suar. O suor é sempre bom, a menos que se sue por dinheiro. Fumem. Fumem muito. Os dentes castanhos são melhores do que os brancos. Melhor do que os dentes castanhos só não ter dentes nenhuns mas ter quem nos corte maçãs e queijo da ilha aos bocados pequeninos. Que se foda o Hemingway.

Miguel Martins em Resumo: a poesia em 2011

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