terça-feira, 17 de setembro de 2013

FOI APENAS HÁ UM ANO... MAS JÁ ESQUECEMOS!


Fez este domingo um ano.
Um povo voltou a sair para as ruas, os que saem sempre, os que deixaram de sair e voltaram, os que nunca tinham saído. A ideia clara de como poderíamos ser povo se a isso nos dedicássemos do fundo da teima dos ossos e não o país acomodado que teimamos em ser, que mais não é que um péssimo sinal, que nada de bom augura.
Mas aquela amena tarde de sábado de Setembro poderia ter marcado a viragem, feito a diferença. Nuno Júdice chamou-lhe implosão e disso fez um livro.
Sol de pouca dura, como diz o povo e voltámos ao adormecimento, ao deixa andar…
Um dia Fernando Pessoa lembrou que descobrimos a Índia e deitámo-nos a descansar…

Desta vez, porém, quando vi grupos de gente a passar na rua com uma ar decidido, muitos levando cartazes ou faixas com palavras de protesto que nada tinham a ver com os lugares-comuns das manifestações habituais, a minha atitude mudou e fui ter com eles, ao lugar que tinham marcado para o encontro. Antes de sir de casa ainda olhei para a televisão que tinha ligado em silêncio e vi os comentadores habituais desfilarem uns atrás dos outros, falando como se tivessem alguma coisa para dizer; mas seu tinha tirado o som à televisão era porque já sabia o que é que estavam a dizer, e nem era preciso ler-lhes nos lábios para conhecer a mensagem de cada um, com a aparência de segurança que pretendiam transmitir e era traída por uma ruga ao canto dos olhos, pelo olhar que de repente fugia para outro sítio. Sei que a situação era complicada, e ninguém tinha a certeza das causas nem das consequências do que estava a acontecer, mas eles continuavam a representar um papel em que já ninguém acreditava. O que era comum a todos, porém, era o ar dramático, via-se pela maneira como olhavam, como lançavam cada palavra para fora, e como por vezes demoravam a frase, com a pele tensa, os lábios cerrados, e depois era como estivessem a libertar-se de algo que lhes doía, embora eu soubesse que nem eles sabiam o que é que lhes doía, e o que todos sabíamos, nós e eles, era que ninguém estava a gostar daquilo que se estava a passar, e muito menos ainda daquilo que se iria passar.

(Citação de A Implosão de Nuno Júdice)

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