terça-feira, 24 de setembro de 2013

OLHAR AS CAPAS



Estou Vivo e Escrevo Sol

António Ramos Rosa
Orientação gráfica: Espiga Pinto
Colecção Poesia e Ensaio nº 11
Editora Ulisseia, Lisboa Março de 1955

                                                              ao Ruy Belo

Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol 

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida 

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde 

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